A Escola precisa de tirar melhor partido do que podem oferecer as ferramentas digitais. Hoje não há desculpas para não se mostrarem vídeos na sala de aula, sejam os quadros interativos ou não.
Apesar de muitas escolas portuguesas estarem bastante bem equipadas em termos de tecnologia (computadores, redes internas, rede sem fios, etc.), a sua utilização escolar é diminuta e o seu impacto no estudo das disciplinas escolares é reduzido. Esta situação não é única em Portugal, aparecendo também no estudo da OCDE, Are the new millennium learners making the grade? (2010), onde se diz que, “apesar do aumento do investimento em infraestruturas de ICT nas escolas, a razão estudante/computador ainda constitui um handicap para o uso de ICT em escolas”. Verifica-se que o uso de computadores e internet é maior em casa dos alunos, criando uma desigualdade entre aqueles que podem usar ICT no apoio ao seu estudo e aqueles que não podem. O mesmo estudo conclui, na sequência de muitos outros, que existe uma correlação forte entre os resultados escolares e a frequência do uso do computador em casa e na escola. Nos países da OCDE, 80% dos alunos de 15 anos relatam que usam o computador com frequência em casa, mas não na escola, e sabe-se que a correlação com os bons resultados escolares se mantém mesmo depois de se “retirar” estatisticamente a influência dos fatores socioeconómicos. Além do mais se, por um lado, os alunos que não usam, ou usam raramente, o computador têm desempenho inferior à média, nem sempre uma utilização intensiva está associada a bons resultados escolares. Este estudo permite ainda concluir que o uso do computador amplifica as competências e capacidades escolares dos alunos.
No ano passado foram divulgados também pela OCDE os resultados de um outro estudo, baseado num teste usando computadores, que pretendia medir a capacidade de os alunos de 15 anos navegarem e avaliarem informação em linha (PISA 2009 Results: Students On Line: Digital Technologies and Performance). Neste teste, apelidado de “leitura digital”, apenas participaram 16 países e zonas económicas (como Hong Kong e Macau). Os melhores resultados foram obtidos pela Coreia do Sul, Nova Zelândia e Austrália. Uma das conclusões interessantes é que os chamados “nativos digitais” não sabem necessariamente navegar adequadamente na internet, mesmo quando são oferecidas instruções sobre como chegar à informação pretendida. Outra conclusão interessante é que a utilização de computadores na escola não está associada a um melhor desempenho na “leitura digital”, enquanto que a utilização moderada de computadores em casa está associada a bons desempenhos. Por fim, uma utilização intensiva de computadores não está associada a desempenhos de alto nível.
Estes dois estudos levam a pensar que existe um enorme espaço para uma a utilização educativa ativa e positiva do computador e da internet nas escolas. A Escola existe porque, com organizações por vezes muito diversas, consegue ajudar os jovens a melhorarem os seus conhecimentos e competências, de forma muito mais eficaz do que se estivessem entregues a si próprios. Vivendo os jovens de hoje numa era digital onde os recursos são cada vez mais potentes, nem a Escola, nem os próprios recursos em si são capazes de, sem orientação, oferecer aos jovens aquilo que se espera deles: que sejam capazes de tirar partido das ferramentas que existem – alguns conseguem (aqueles que têm acesso em casa, com ou sem ajudas), mas isso cria um novo fosso para aqueles que não têm acesso a computadores ou internet em casa, ou que a usam de forma desmesurada. Claramente, a Escola precisa de tirar melhor partido do que podem oferecer as ferramentas digitais. Hoje não há desculpas para não se mostrarem vídeos na sala de aula, sejam os quadros interativos ou não. Páginas com imensos recursos – como Casa das Ciências ou Ciberdúvidas da Língua Portuguesa – deviam ser de consulta frequente por parte de professores e alunos, pelo menos no Ensino Secundário. Todos os alunos do Ensino Secundário deviam realizar mais projetos de pesquisa usando a internet, mesmo correndo o risco de haver plágios. Há “copianço” nos testes e mesmo assim eles não acabam... Precisamos de entrar decididamente no século XXI!
Jaime Carvalho e Silva
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