É preocupante o modo como a educação vem sendo (mal)tratada por sucessivos (des)governos. Será através da Educação que o país progredirá, é bem verdade, mas não através desta educação.
A conceituada revista Science deu a conhecer um estudo que contraria tendências reveladas em recentes decisões de política educativa. Publicação da Associação Americana para o Avanço da Ciência, parece ser uma das revistas preferidas do atual ministro da Educação de Portugal, acérrimo defensor do aumento do número de aulas dedicadas à Matemática e à Língua Materna e que aposta no aumento da quantidade de testes e exames como antídotos para o descalabro da educação. Deborah Stipek, docente da Faculdade de Educação da Universidade de Stanford, trabalhou o seu estudo ao longo de 35 anos. A autora do estudo denuncia o facto de os jovens serem treinados para obter bons desempenhos em testes e afirma que é aberrante uma educação centrada em resultados mensuráveis e em rankings. E acrescenta que a preparação para exames sufoca a formação de uma personalidade madura e equilibrada. Sublinho que este diagnóstico foi dado a conhecer pela Science – não se trata de uma afirmação leviana ou da autoria dos “adeptos do eduquês”, que o referido ministro critica e maltrata. Irá o senhor ministro contrariar dados científicos? Deborah Stipek sublinha o facto de o sistema de exames produzir especialistas em provas, enquanto “prejudica vidas que poderiam ser promissoras”. Em suma: um ambiente escolar competitivo, voltado para testes e exames é prejudicial à aprendizagem. E quem o afirma é o editorial da revista Science, que tem por título “Educação não é uma corrida”. A pesquisa de 35 anos de duração diz-nos que não bastam mudanças pontuais – contrariamente àquilo que o ministro defende – e que é urgente mudar o modo como funcionam as universidades e as escolas. Escutemos a pesquisadora. O sistema atual, baseado no desempenho em testes, pode prejudicar muito a formação de grandes pensadores. Essa forma de ensino promove um verdadeiro extermínio de grandes mentes. A maneira como a educação é organizada na atualidade faz com que potenciais vencedores do Prémio Nobel sejam perdidos antes mesmo do fim da educação básica, já que o modelo de ensino massacra qualquer outro interesse que não seja cobrado nos exames. “É importante desenvolver talentos. Isso sim, tem um papel importante no futuro de alguém”. No Brasil, os estudos disponíveis dizem-nos que o problema é maior nas escolas privadas, voltadas para a aprovação no vestibular. Afirma a coordenadora do Centro de Pesquisa em Empreendedorismo, da Universidade de São Paulo: “É preciso redescobrir o significado de ir à escola, de estudar. Mercado de trabalho, preconceitos e status social são questões que devem deixar de nortear as políticas educacionais. A sociedade valoriza muito mais o trabalho cooperativo, mas a escola forma alunos muito mais focados no trabalho individual. Quem disse que é preciso ser o melhor aluno, frequentar a universidade mais renomada? A maioria dos grandes pensadores que deixaram um legado para a humanidade seguiram caminhos muito diferentes do convencionalmente estabelecido. Fizeram o que fizeram unicamente porque gostavam daquilo e não por uma imposição social”. A lista é extensa: Ghandi, Picasso, Einstein... É preocupante o modo como a educação vem sendo (mal)tratada por sucessivos (des)governos, tanto em Portugal como no Brasil. Será através da Educação que o país progredirá, é bem verdade, mas não através desta educação. Para Paulo Freire, a Educação é um processo político de compreensão da realidade e de transformação do mundo. É lamentável que os equívocos ministeriais ocultem e adiem e compreensão e a transformação que, desde há muito tempo, a Educação requer.
José Pacheco
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