A Educação Social é uma profissão de interações e de relações com as pessoas com quem trabalha, procurando sustentar a sua autonomia, como já defendia Paulo Freire em «Pedagogia da Autonomia».
A Educação Social, pensada não apenas como um curso de licenciatura específico, ou outro, mas antes como área, como um campo, é transversal a muitas profissões [M. Capul e M. Lemay, Da educação à intervenção social]. De acordo com Isabel Baptista, os educadores sociais situam-se num espaço profissional entre os educadores-professores, “com quem partilham o saber pedagógico”, e os trabalhadores sociais, com quem “partilham os mesmos territórios de intervenção”. Os educadores sociais estão, assim, “especificamente preparados para desenvolver uma acção educativa em espaços sociocomunitários. É aqui que o seu trabalho se cruza com o de outros trabalhadores sociais” [em A Página da Educação nº 94, setembro/2000]. A Educação Social, como campo de intervenção, usa modelos teóricos de diferentes disciplinas: “história, sociologia, direito, etnologia, economia, psicologia, biologia, psiquiatria, psicanálise, etc.” [Capul e Lemay]. E para Adalberto Dias Carvalho e I. Baptista, “a Educação Social surge, actualmente, como um domínio de ponta. Enquanto plataforma agregadora de perspectivas disciplinares e de projectos de intervenção, ela estabelece relação entre o saber próprio do universo da pedagogia – esta, tradicionalmente ligada à educação escolar – e a experiência da acção no terreno do trabalho social. Assim, ela impulsiona, cada vez mais, novos horizontes para a investigação e para um importante conjunto de profissionais” [Educação Social. Fundamentos e estratégias]. Por outro lado, se considerarmos a Educação Social como prática da pedagogia social (J. A. Caride), ela “capacita as pessoas para a vida fugindo de uma perspectiva de comodismo que significa adaptação a um mundo dado. Antes pelo contrário, o que busca é o desenvolvimento pleno e autónomo das pessoas, cultivando as diversas dimensões humanas (afectiva, social, intelectual, física)” [R. P. Gradaílle e T. Iglesias, “Educando en igualdade nos escenarios escolares e sociais”]. A função do educador social apoia-se no “amor-vocação para uns, profissão-tecnicidade para outros” [P. Fustier, L ´Identité de l ´Educateur Spécialisé]. “No fundo cabe aos educadores sociais criar e alimentar os espaços de mediação necessários a uma socialização feliz” [Batista]. A Educação Social é, portanto, uma profissão de interações e de relações com as pessoas com quem trabalha, procurando sustentar a sua autonomia, como já defendia Paulo Freire na sua Pedagogia da Autonomia. Temos, claro, mais do que uma definição de educador: “Uns insistem no comprometimento pessoal e nas ‘qualidades do coração’; as outras querem caracterizar uma metodologia de comunicação que, para além das qualidades necessárias, permite desembocar no estatuto de ‘prático da relação’. Ultrapassando estas querelas, pode, sem dúvida, considerar-se que a profissão de educador se caracteriza essencialmente pela possibilidade de partilhar períodos de vida com uma criança, um adolescente, um adulto – ou um grupo de crianças, de adolescentes, de adultos – para lhes permitir situarem-se melhor perante eles próprios e perante a sua envolvente”, consideram M. Capul e M. Lemay. Estes autores caracterizam a relação profissional do educador social em sete dimensões: 1. a escuta, que pressupõe a descodificação de um discurso, e a empatia; 2. a aceitação da pessoa com as suas riquezas e os seus limites, que remete para o respeito, mas não necessariamente para a aceitação de todos os seus atos; 3. o esforço para pôr em jogo atitudes de antecipação que remetem para a crença na mudança dos sujeitos rompendo com a força do determinismo social; 4. a retenção que remete para a ação educativa de jovens que conseguem reestruturar-se quando encontram um adulto empático, seguro, embora distanciado dos seus problemas, que pode dar “sentido ao inteligível e estruturar assim um universo que se tornou cataclísmico”; 5. a afirmação da lei, que implica, para além da empatia, a coerência para “representar uma lei”; 6. o duplo olhar, que remete para o olhar sobre si mesmo no ato de escutar o outro, interrogando-se “sobre o que é e sobre o que faz no seu encontro com o outro”; 7. a perspetiva sistémica, em que o educador terá de considerar o “conjunto de componentes da realidade da pessoa: a sua família, os seus pares e amigos, a escola, a vizinhança, a comunidade, o meio de trabalho, etc.”.
[continua]
Ana Vieira
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