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Homens bons e insatisfeitos, homens que deixam obras (in)terminadas

Fiquei absolutamente sem forças quando recebi a notícia do falecimento do José Paulo Serralheiro. Tinha decidido tratá-lo assim, há meia dúzia de anos, justamente quando ele me passou a tratar também por tu. Foi uma amizade construída à distância, física, leia-se, mas com uma grande proximidade afectiva.
Nunca negámos um ao outro qualquer pedido. Falávamos por telefone e era como se nos conhecêssemos desde há longa data. Contudo, a nossa primeira conversa deve ter acontecido aí por 1998. Passámos a falar de educação, sociedade, culturas, textos, livros e utopias pedagógicas. Também da vida e da saúde da mesma. Ouvia do outro lado do telefone uma voz grave, calma, amiga, insatisfeita, sonhadora e sempre construtora de novas ideias. Uma voz que indiciava ser de alguém que fumava. De alguém que, também, respirava enquanto falava. Nunca tinha pressa. Transmitia paz.
Foi há  uns 2 anos que o José Paulo me contou, de novo ao telefone, que teria de ir fazer uns exames médicos. Como o tempo corre Meu Deus. Ainda há dois dias perguntava à Silvia Enes como estava o José Paulo e fiquei, de facto, a saber que não estava muito bem. Mas estava longe de saber que estaria tão doente.
Dolorosamente, informei os colegas do Instituto Politécnico de Leiria que mais perto estiveram do trabalho do José Paulo. Além de director de um grande jornal, “a Página da Educação”, e de coordenador da Profedições, o José Paulo muito contribuiu para a discussão da Educação em Portugal e para a emergência dum sindicalismo alternativo. Dizia-me, há uns anos, sempre ao telefone, que ser sindicalista não podia ser apenas andar a espalhar folhetos. Sempre quis que todas as zonas do país (e outras mais) fossem representas pela apresentação de relatos, problemas, reflexões sobre o quotidiano da educação. Quis que eu representasse a Região de Leiria e, desde então, sempre fui contribuindo com vários colegas que aceitaram esses muitos desafios da crónica mensal. O Zé Paulo muito apoiou Leira, o CIID, a ESE, o IPL e as publicações de muitos de nós. Ficamos-lhe eternamente gratos.
Homem Bom. Homem insatisfeito e sempre em busca de melhores futuros. Estava a construir mais um: o “segundo ciclo da editora Profedições e de a Página da Educação” como escreveu no início do Verão de 2009 no editorial do primeiro número da Revista, projectando a versão impressa e o portal para debatermos, comunicarmos entre nós, entre o básico, o secundário, o superior, Portugal, Brasil e o mundo.
Ficamos todos mais pobres com esta partida. Mas vamos ficar com a obra que o Professor José Paulo Serralheiro nos deixou para ser continuada.
Que o futuro o permita José Paulo 

Ricardo Vieira


  
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