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Fim de Curso

Pais é caro leitor vamos ficar pela 5ª! Não Sejamos demagógicos É que se você andou a seguir estes "cursos por correspondência" e levou tudo direitinho até aqui, isso significa que você está perante um problema que é velho como a história do ser humano: é que as circunstancias fazem tanto os homens como os homens fazem as circunstancias, como dizia o outro, e portanto, não estará na altura de você se inscrever num curso? Está velho? Nem por isso...Ora veja.

A história que lhe vou contar é verdadeira, (embora com omissão de intérpretes): o ensaio decorria normalmente num conhecido grupo coral, dirigido por um maestro e compositor (figura pública de grande notoriedade na música e na cultura portuguesas). A dada altura, porém, o maestro começou a reparar que um dos elementos do coro estava constantemente a fazer anotações na sua partitura que mantinha firmemente entre as mãos enquanto cantava. No fim do ensaio não se conteve que não fosse ter com o dito sujeito e lhe perguntasse que tipo de anotações fazia ele na sua partitura que o levava, por vezes, a alguma distracção na sua prestação musical, (e isto dito até com um ar de certo modo irado, diga-se, tal era a febril actividade do indivíduo durante o ensaio). Foi então que o dito elemento do coro abriu a partitura que lhe estava distribuída e mostrou ao maestro o resultado das suas anotações: as letras das canções estavam literalmente pontilhadas por bolinhas das mais variadas cores. E perante o olhar incrédulo do maestro, o coralista avançou com a seguinte explicação: as azuis são para quando os sons são médios; as vermelhas, para quando são muito agudos, as pretas para quando há sons muito graves... Enfim, aquilo já não era propriamente uma partitura. E então, o maestro, ironicamente (porque ironia não lhe faltava), voltou-se para o homem e disparou: oiça lá, por que é que você não resolve muito simplesmente aprender música? Desconheço qual a decisão do coralista. Duvido, porém, que tenha continuado a distrair-se durante o ensaio pintalgando a sua partitura com as mais diversas cores. Entretanto, prestemos-lhe uma singela homenagem pela sua aturada insistência em querer dar um salto nos seus conhecimentos musicais, e assim contribuir com denodo para a elevação do nível artístico do coro de que era um valoroso elemento. Também não vou utilizar a ironia, até porque quem começou com isto fui eu. Mas, o que lhe proponho é "fim de curso". O resto é consigo. Recordemos, pois o que andamos aqui a "fazer" desde Novembro de 1997, isto é há ano e meio! Começámos por observar o aparelho fonador do ser humano, seguiram-se exercícios dos mais variados tipos para treino do aparelho respiratório, e finalmente, passámos ao treino auditivo. Não é possível fazer mais teoria sem passar mesmo que de raspão, pela demagogia. Por isso há que colocar um ponto final neste figurino. Outro se levantará... E assim, para terminar, recordo, modestamente que estes artigos resultaram em algo de benéfico para cerca de cem pessoas, uma vez que me solicitaram a demonstração ao vivo do que andava aqui a escrever. Não quero dizer que essas pessoas (professores) tivessem, após a demonstração, ficado, de repente, sem problemas vocais. Não quero mesmo dizer nada. Quem tem qualquer coisa para dar, deve fazê-lo. Mas quem recebe também deve. Deve saber que um segredo não se recebe, apenas. Também se conquista. E pronto. Até breve.

Guilhermino Monteiro
Escola Secundária José Macedo Fragateiro, Ovar


  
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Edição:

N.º 80
Ano 8, Maio 1999

Autoria:

Guilhermino Monteiro
Escola Secundária do Castêlo da Maia
Guilhermino Monteiro
Escola Secundária do Castêlo da Maia

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