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nº 190/sumário




editorial

Em Portugal, o Dia Mundial dos Professores coincide com a data de celebração do aniversário da implantação da primeira República, há cem anos, a 5 de Outubro de 1910. Dando seguimento às preocupações que justificaram a opção por este eixo temático nas edições de 2010, a PÁGINA associou-se, este ano, a essa dupla celebração, promovendo, conjuntamente com a Direcção do Sindicato dos Professores do Norte e a editora ProfEdições, a realização de um colóquio subordinado ao tema “Educação e Res Publica” (2 de Outubro, no Conservatório de Música do Porto). Para o efeito, foram convidados oradores de reconhecido mérito académico, profissional e cívico, como Hernández Diaz, Manuel Loff, António Teodoro, Paulo Sucena e Mário Nogueira. Daremos conta desse promissor encontro na edição de Inverno, convictos de que a resposta aos actuais imperativos de cidadania, de educação e de profissionalidade docente passa pela valorização da educação na pluralidade das suas dimensões e que um desígnio desta natureza pede a consagração de compromissos políticos audaciosos e amplamente comparticipados.

Isabel Baptista





Bastaram dez dias sobre a implantação da República para começarem a ser publicados os primeiros diplomas legais com a finalidade de colocar Portugal, no que à educação dizia respeito, ao nível dos países europeus mais evoluídos. Acabar com o analfabetismo – em 1907 atingia uma percentagem próxima dos 80%, numa população que não chegava a seis milhões –, criar escolas primária em número suficiente para que a educação fosse um bem acessível a todos, melhorar a preparação pedagógica e científica dos professores, bem como as suas condições de vida, pondo fim à sua mísera situação económica, constituíram as primeiras medidas daqueles que, no dia 5 de Outubro de 1910, meteram ombros à tarefa de criar e consolidar “uma nova maneira de ser português, capaz de expurgar a Nação de quantos males a tinham mantido, e mantinham, arredada do progresso europeu, sem força, sem coragem, sem meios para sacudir de si a sonolência em que mergulhara” [Rómulo de Carvalho].

Henrique Borges





Cuando se proclama la Primera República en Portugal, en 1910 los grupos españoles ven colmadas buena parte de sus expectativas, comparten alegría y ilusión con los colegas portugueses, pensando que el proyecto de una república culta y políticamente madura puede hacerse realidad, primero en Portugal, y siguiendo su ejemplo, más tarde en España.

José María Hernández Díaz





ARIANA COSME

“Quando falo do professor como interlocutor qualificado, falo de um professor que é capaz de se ler enquanto profissional a partir da prática que desenha na sua sala. Professor qualificado é o que se organiza para responder à questão o que é que eu espero dos meus alunos?. Que antes de dizer o que vai fazer, é capaz de pensar o que espera dos alunos, o que é suposto eles aprenderem com ele, o que é suposto fazer com eles durante o mês seguinte ou a próxima hora. Quando consegue pensar desta maneira a sua relação com os alunos, o professor está disponível para pensar novas formas de se adaptar à comunicação, à rede de trabalho, a propostas de trabalho… Há professores que não abdicam de trabalhar assim. É difícil? É, mas é possível.”

Entrevista conduzida por António Baldaia





Quién detiene esta trituradora de ilusiones? Quién para esta maquinaria infernal? No es justo, no es lógico que el trabajo tenga que realizarse a costa de la familia, de la salud o del descanso. Hay que decir basta. Alguien tiene que poner coto a esta insensatez progresiva.

Miguel Ángel Santos Guerra





Desde que os adultos inventaram a criança, a vida dela nem sempre melhorou. Cientes da distância que vai entre o conceito e a prática, os adultos inventaram também os Direitos da Criança, adenda politicamente correcta da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Pascal Paulus





Se o professor levar em consideração as particularidades e as singularidades dos processos de aprendizagem dos alunos e estiver interessado em que todos aprendam, sem desistir de nenhum deles, o processo de ensino torna-se menos previsível, menos capaz de seguir um planeamento estrito e prévio.

David Rodrigues





A sua acção, embora apoiada em princípios bem marcados nos domínios da ética social, da política, da economia e da religião, era determinada pela utilidade e pela capacidade de mobilizar os meios que permitissem resolver problemas concretos.

Domingos Fernandes





Os chamados mega-agrupamentos poderão ser vistos à luz de alguns aspectos positivos. Mas se essas mais-valias não forem o princípio axial da reorganização do parque escolar, corremos o risco de uma série de desvantagens, bastante prejudiciais à Escola e à Sociedade.

José Rafael Tormenta





Independentemente da necessária reorganização da rede escolar e da legítima preocupação com as finanças públicas, é incompreensível a ideologia que nos assegura que a reduzida dimensão das escolas é a variável indutora de abandono e insucesso.

Licínio C. Lima





No quadro de legitimação de uma ordem política, económica e social mais conforme aos princípios e valores do credo neoliberal, as palavras assumem hoje uma insustentável leveza. Na área da educação escolar, os exemplos abundam e têm vindo a proliferar.

Ariana Cosme
Rui Trindade





Foram identificados novos padrões de regularidade nos percursos dos estudantes. Regularidades que incluem tanto as condições estruturais partilhadas como os contextos situacionais e a efectividade da agência pessoal.

João Teixeira Lopes





A tutela da Ciência e do Ensino Superior passou a exigir um certificado de residência permanente para os candidatos estrangeiros a bolsas de doutoramento em universidades nacionais. Isso significa que cada candidato deverá possuir residência em Portugal há pelo menos 5 anos.

Paulo Raposo





Numa tradução de textos de Chuang Tse, Octavio Paz começa por salientar a oportunidade das reflexões do filófoso chinês, expressas através de breves diálogos, num tempo que era já de culto de arrazoados discursivos como antecipação de reconfigurações políticas, sociais e económicas ou outras: “En nuestra época erizada de filosofías y razonamientos cortantes y tajantes (preludio necesario de las atroces operaciones de cirugía social que hoy ejecutan los políticos...), nada más saludable que divulgar unos cuantos de estos diálogos llenos de buen sentido y sabiduría. Estas anécdotas nos enseñan a desconfiar de las quimeras de la razón y, sobre todo, a tener piedad de los hombres”. O poeta e ensaísta mexicano transfere para o seu tempo as críticas que os taoístas Lao Tse e Chuang Tse faziam da sociedade que era a sua: “Nuestra época ama el poder, adora el éxito, la fama, la eficacia, la utilidad y sacrifica todo a esos ídolos. Es consolador saber que, hace dos mil años, alguien predicaba lo contrario: la oscuridad, la inseguridad y la ignorancia, es decir, la sabiduría y no el conocimiento”.

Humberto Lopes





Quando o conhecimento é usado para proteger ou enaltecer interesses sectoriais, deixa de ser realmente útil. E o oposto de ‘conhecimento realmente útil’ não é ‘conhecimento realmente inútil’, mas potencialmente ‘conhecimento realmente perigoso’.

Roger Dale





o eterno retorno do mito

A centralidade refundadora da educação e formação de adultos permanece refém entre o engodo produtivista e a armadilha compensatória. Vale a pena lembrar que a educação é também uma política cultural e que não pode compensar a sociedade.

Fátima Antunes





Ante el riesgo de mantenernos indiferentes y vulnerables, la Pedagogía Social y las prácticas socioeducativas han de asumir con todas sus consecuencias el sentido de la denuncia y de la propuesta. De invocarlas, de resistir y persistir en ellas.

José Antonio Caride Gómez





MATILDE ROSA ARAÚJO [20.06.1921 | 06.07.2010]

"Os alunos, muitas vezes, julgavam que os escritores tinham todos morrido e quando começámos a aparecer por lá… mostrámos afinal que não éramos o “clube dos poetas mortos”… E, hoje, o encontro é tão feliz. Desses encontros trago sempre um quinhão de felicidade que os alunos generosamente me entregam na fraternidade do ler, do seu ler. Uma felicidade que me ensina tanto. Assim eu possa continuar a aprender."

Entrevista realizada por Luís Souta





JOSÉ SARAMAGO [16.11.1922 | 18.06.2010]

"O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo. Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama."

José Saramago





Quem se der ao cuidado de ler as dezenas de textos ultimamente produzidos por jornalistas, ensaístas, críticos e gente dada às letras em geral sobre José Saramago, há-de estranhar a ausência de uma explicação cabal sobre a escolha de Lanzarote para lugar de exílio, não se configurando o escritor como propenso a cenóbios ou eremitérios.

Leonel Cosme





O ser humano é um ser que se experimenta a si próprio como um ser a se construir, histórico. E a história é o espaçoe o tempodo possível. Para se realizar, ele precisa sair de si, pois, em si, é necessidade e carência. Um ser sofredor. Que, por ser inquieto, tem uma necessidade permanente de vida.

Ivonaldo Leite





Há que ser feliz a qualquer preço. Compra-se a felicidade e a felicidade está nas compras. Assim, a felicidade foi banalizada e transformada em mercadoria.

Marisa Vorraber Costa





O encontro suscita a aproximação entre diferentes modos e diferentes compreensões de docência. Temos na formação docente encontros reais que criam sentidos de docência. Alguns ocorrem pelo fluxo das vidas dos professores, outros são “dobrados” pela formação acadêmica.

Alexandra Garcia





Não dá para negar, no Brasil, a Copa é o principal assunto durante o campeonato. As conversas são os jogos, os jogadores, as chances de cada seleção. As crianças, então, a cada jogo, sempre uma nova emoção, com tristeza ou alegria, poucas são indiferentes. Tanto deslumbramento e curiosidade, não tem jeito, a Copa invade a sala de aula.

José Guilherme Gonzaga
Miatã de Andrade Gonzaga





Desde sempre a Filosofia duvidou. A dúvida é o seu gesto instaurador. Por isso, com algumas excepções, nela tudo é anti-Ordem e anti-Poder. O futebol, ao invés, procura sofregamente o apoio do Ter e do Poder e expande-se, desenvolve-se, com Ordem e Medida. Por outro lado, também o Ter e o Poder precisam do futebol para legitimar-se. De facto, as selecções nacionais, as equipas mais repre sentativas dos vários países, representam interesses desportivos mas, sobre o mais, interesses mediáticos, comerciais, publicitários, políticos. Os desempenhos das selecções e dos clubes encontram-se intimamente ligados aos desempenhos dos serventuários do grande capital.

Manuel Sérgio





ANTONÍ MARTORELL

“A diferença entre socialização e educação pode corresponder a algo tão subtil como a intencionalidade e a civilidade. Por defeito, todas as relações sociais têm um grande impacto nos padrões de socialização das pessoas que nelas participam. Para que ocorra um processo educativo, os agentes que participam nas relações sociais têm de tomar consciência e ter intencionalidade no acto de educar – isto é, partindo do exemplo, davivência ou do impacto social, transmitir um conjunto de valores de civilidade. Da cidade emerge constantemente uma grande quantidade de mensagens, de políticas e de experiências que têm um forte impacto em todos os cidadãos e que possuem um significativo potencial educador. Que se assumam ou não como tal, dependerá da sua intencionalidade e do seu compromisso com a Educação”.

Entrevista conduzida por Ricardo Jorge Costa





No âmbito do projecto Trajectórias Sociais e Práticas Profissionais de Assistentes Sociais, do Centro de Investigação Identidade(s) e Diversidade(s) / Instituto Politécnico de Leiria (CIID-IPL), temos realizado trabalho de pesquisa etnobiográfica com profissionais desta área. Pretendemos aqui apresentar um esboço reflexivo relativamente às questões da articulação entre a vida familiar e profissional de duas das Assistentes Sociais que, ao longo da investigação, recordam e relatam as suas histórias de vida, vivências e incidentes críticos que são, muitas vezes, referenciados pelas próprias como formativos. Para este efeito, utilizámos, como instrumentos de investigação, entrevistas em profundidade e um focus group.

Cristóvão Margarido
Tânia Coelho





Aprofundar o debate e o espaço de reflexão em torno dos estudos curriculares foi o propósito que juntou, no Porto, alguns conceituados investigadores portugueses e brasileiros. O encontro proporcionou não apenas o debate sobre o currículo e as suas políticas, fundamentos e práticas, mas também a divulgação de alguns dos projectos de investigação que têm vindo a decorrer em ambos os países.

Ricardo Jorge Costa





António Flávio Moreira

"O campo do currículo é central em termos de Educação, ele é o coração da Escola, e nessa medida a sua importância é indiscutível. E essa importância tem levado a que a necessidade de debate seja cada vez mais reconhecida. Isso reflecte-se, nomeadamente, no número de investigações, dissertações e teses que abordam o currículo, que tem aumentado nos últimos anos, quer no Brasil, quer em Portugal."

Entrevista conduzida por Ricardo Jorge Costa





Se observarmos a compra de produtos alimentares não vemos as pessoas a olharem muito tempo para os rótulos. Será que já sabem o que dizem, compreendem o significado e compram conscientes do que é melhor? Ou, por tão difícil de compreender o significado e por confiarem plenamente na indústria, simplesmente não valorizam o que metem dentro de si?

Débora Cláudio





Se nos debruçarmos sobre as mensagens de educação para a saúde dirigidas a jovens, quantas os envolvem na sua concepção?

Nuno Pereira de Sousa





Jovem, trabalhador e com qualidade. Detecta-se, facilmente, na frescura das suas ideias, na ambição q.b., na determinação e no rigor do pensamento espelhado nas palavras ditas. A páginas tantas, disse-me: "Vou embora, estou farto deste Guantanamo". Confesso, senti um aperto na garganta. No fundo, esta terra de senhores falantes ou de ignorância altifalante, segrega, bloqueia, mata, quem, com profissão e colocação, mantém a coluna direita, não se vende a um qualquer cartão partidário, apenas deseja construir o seu futuro, pessoal e profissional, ditado pelas convicções que assume perante a vida. Rebelde, não me pareceu, embora uma pontinha desse comportamento deva corresponder ao fogo da alma, à inquietude que se recusa conformar perante situações desconformes. Do meu interlocutor, eu diria, talvez, desajustado – porque não vê e não interpreta o mundo pelos olhares dos outros. A plasticina não corre na sua coluna. Não entra no jogo de maria-vai-com-as-outras! Os seus olhares pareceram-me de permanente interrogação: e se não for assim? Isto que parece, não é! Se insistir nisto, é óbvio que estou a contribuir para aquilo! Por aí fora, fiquei eu, mais tarde, a reflectir sobre os seus posicionamentos.

André Escórcio





Podemos considerar que os regimes de direita, conservadores nos costumes, partidários da disciplina, autoridade do “chefe”, antidemocráticos, sem liberdade de expressão de pensamento e de partido único, são, em geral, fascistas ou afins. No início do Século XX, depois da 1ª Grande Guerra, deu-se um grande avanço deste tipo de ideologia. Esse facto verificou-se em Itália, pátria do fascismo de Mussolini, que exerceu enorme fascínio pessoal sobre Hitler, na Alemanha.

Carlos Mota

 





Estes terráqueos são loucos! Uns mais, outros menos, é claro, mas sensatez é algo que parece não abundar neste mundo interior do sistema! Há alguns anos saturninos que me venho debruçando sobre esta espécie indígena do terceiro planeta e, ainda hoje, muitos dos seus comportamentos constituem para mim um completo e absoluto mistério. Raramente dizem o que pensam e, muitas vezes, nem sequer pensam o que dizem! É vê-los, impassíveis, cogitar uma coisa, dizer uma outra e fazer quase sempre uma terceira – algumas vezes, por incrível que pareça, literalmente contrária!

Aurélio Lopes





Muitas das promessas técnicas que ouvimos como cantos de sereia dependem de uma disponibilidade de matérias-primas que pode não se confirmar. De facto, as reservas geológicas mundiais são escassas face ao nível de consumo de alguns metais em sectores ditos de alta tecnologia ou de importância estratégica.

Rui Namorado Rosa





Durante muito tempo pensou-se que os microrganismos eram maléficos. No entanto, nos últimos anos, a biotecnologia tem demonstrado que eles podem ser muito úteis, pois apresentam diferentes aplicações em vários segmentos de actividade, como agricultura, saúde, indústria e bio-remediação. Para além destas aplicações, alguns estudos sugerem a utilização de microrganismos para a produção de energia eléctrica.

Departamento de Conteúdos Científicos do Visionarium





O sistema televisivo português não dispõe de um serviço exclusivamente dedicado à programação educativa e cultural. É possível encontrar nos canais generalistas alguns programas que respondem a estes objectivos, embora tenham uma presença pouco significativa nas grelhas. A RTP2 é um caso diferente.

Sara Pereira





Entre as grandes figuras do cinema de animação, Lotte Reiniger mantém-se única. Mais ninguém pegou numa técnica específica de animação e a fez literalmente sua. Em termos práticos, a história das silhuetas animadas começou e acabou com ela. Pegando na antiga arte do teatro das sombras, aperfeiçoada até ao limite na China e na Indonésia, adaptou-a superiormente ao cinema.

Paulo Teixeira de Sousa





Estávamos início dos anos 60 do século passado. A escola, porque era a única escola da pequena vila, era uma escola mista. Mista em género, com rapazes e raparigas, mista em classes, pois a professora tinha meninos da 1ª à 4ª, e mista em grupos sociais. Estávamos lá todos. Os filhos dos caseiros, os filhos dos camponeses, a filha do dono da mercearia, os filhos da Josefa, a nossa cozinheira, as filhas do barbeiro, o filho da recoveira, os filhos do albardeiro, a filha do chefe do posto dos correios, eu, a filha do Senhor Doutor, e o Almerindo, o filho do carteiro.

Angelina Carvalho


  
A Página impressa
Edição N.º 190, série II
Outono 2010

Brevemente disponível online.



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