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ESEs: novos cursos, novas identidades

As Escolas Superiores de Educação foram criadas com a finalidade exclusiva de realizarem formação de professores. E essa exclusividade manteve-se, na grande maioria das ESEs, até ao início dos anos 2000, tempo suficiente para consolidar culturas institucionais enformadas pela matriz e vocação originais. Hoje, as ESEs realizam outras formações e nenhuma desenvolve a sua acção predominantemente centrada na formação inicial de professores e educadores (FIPE).
A necessidade de sobrevivência das próprias instituições, devido à escassez de alunos, as aberturas do modelo de Bolonha e a nova estrutura dos cursos, activaram profundas mudanças nas ESEs. Abriram-se, nos últimos anos, a novos cursos – de nível 1 e 2, e especializações – em diferentes áreas, a maioria das quais no domínio da educação e intervenção educativa e social. Adquiriram relevância cursos de 1º ciclo em áreas como Educação Social, Educação Multimédia, Animação Sociocultural, Teatro e Educação, Língua Gestual, etc. As formações de 2º ciclo têm vindo a proporcionar especializações a professores e outros profissionais da educação, em Administração Educacional, Educação de Adultos, Supervisão Educacional, Educação e Lazer, etc.
As culturas das ESEs têm vindo, assim, a recontextualizar-se, sendo a Educação, entendida em sentido formal e informal, social e comunitário, o esteio e matriz daquela diversificação formativa. Geraram-se dinâmicas multi-inter-transdisciplinares, atenuando possíveis cristalizações no seio de círculos de formação de professores, fechados e reprodutivos. Tem sido um notável esforço de mudança. Em instituições como estas, com uma missão original politicamente definida, tem sido relevante o facto de os novos cursos serem concebidos, autónoma e reflectidamente, visando respostas formativas a novas necessidades locais e nacionais.
Neste processo, a formação de professores tem constituído a referência e núcleo gerador de novas ofertas formativas. Por muitas razões, é indispensável manter forte essa referência. O evocado argumento do excesso de professores rapidamente perderá a sua força. Num quadro que designaria como “economia de escala dos saberes educacionais” foi, sobretudo, a partir das experiências, reflexões e sensibilidades desenvolvidas na FIPE, que as ESEs avançaram para outras formações. Com efeito, a Educação, entendida nas suas dimensões formal e informal, a natureza transdisciplinar da FIPE, a clara consciência das complexidades sociais a montante e a jusante da educação, mobilizam para a formação de professores proximidades e conexões com outras formações no domínio da acção e intervenção social.
As ESEs confrontam-se agora com a (difícil) tarefa de afirmarem uma nova coerência institucional, agregadora das diversas ofertas formativa, através da consolidação de filosofias, projectos e culturas institucionais agregadoras dessa diversidade. Uma filosofia que assegure um quadro teórico e reflexivo orientador e agregador da diversidade dos participantes no projecto institucional que, por sua vez, constitui a referência em torno da qual a cultura institucional, como expressão da acção e do modo de fazer, se vai consolidando.
Acrescentaria a esta trilogia – filosofia, cultura e projecto – o nome da instituição enquanto expressão comunicacional simbólica do que a instituição é e faz. Algumas instituições que ampliaram o leque das suas ofertas formativas muito para além da matriz educacional (incluindo cursos como turismo, termalismo, comunicação social, relações humanas, tradução e interpretação, desporto, arte e design, etc.) terão naturalmente maior dificuldade em consolidar coerentemente aquela trilogia e, obviamente, a própria designação de ESE será já muito estrita para tal diversidade de conteúdos.

Carlos Cardoso


  
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Edição:

Edição N.º 187, série II
Inverno 2009

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