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Meios de comunicação e educação das relações étnico-raciais

Podem os meios de comunicação contribuir para o reconhecimento e valorização da diversidade que compõe as sociedades?
Creio que, para fazê-lo, antes de mais, os meios de comunicação têm de assumir a responsabilidade de divulgar amplamente, valorizar, fazer dialogar as diferenças humanas, sociais, étnico-raciais, ambientais que compõem a sociedade. Os meios de comunicação são poderosos instrumentos para a educação. Eles podem, em suas programações, valorizar peculiaridades de pessoas e grupos, exibindo, para enaltecê-los, jeitos diversos de ser, viver, pensar, trabalhar, produzir conhecimentos. Não é tarefa fácil em sociedades que se recusam a admitir a pluralidade que as compõem,ou não aceitam que ser diferente é um direito. 

Então, no seu entender, os meios de comunicação podem criar possibilidades para mútuo e real conhecimento entre pessoas e grupos?
Sobretudo rádios e TVs públicas tem de assumir a responsabilidade de apontar possibilidades de aproximação, compreensão, e até mesmo de composição entre distintos significados de diferentes raízes sociais e étnico-raciais. Podem se tornar fortes aliadas na quebra dos racismos e discriminações que há cinco séculos, no Brasil, permeiam as relações entre grupos sociais e étnico-raciais. Neste sentido, muito esforço terá que ser feito, de um lado para que se deixe de exibir tipos tidos como os mais perfeitamente humanos, de outro para que se divulguem diferentes visões de mundo, tendências intelectuais, pensamentos, sem que um ou alguns se sobreponham como se fossem os mais perfeitos, completos, valiosos.

O que caracterizaria as programações?
Noticiários, novelas, filmes, musicais e outras produções provocariam os espectadores, homens e mulheres das mais diferentes idades, condições sociais, pertencimentos étnico-raciais, a tomar posições, a reavaliar condutas, atitudes. Provocariam-nos, ao oferecer alternativas de pontos de vistas, ao projetar a história da humanidade, reinterpretando-a nas perspectivas de cada povo, em diferentes épocas e contextos. Mais ainda, exporiam conhecimentos capazes de identificar conexões entre as histórias e culturas de diferentes povos; capazes de propiciar superação de julgamentos depriciativos, forjados a partir de esteriótipos e preconceitos.

Como podem os meios de comunicação produzir impacto nas relações étnico-raciais, educando para mútuo respeito, compreensão e valorização das diferenças?
Antes de mais nada precisam contar com profissionais, da gestão à apresentação de programas, integrantes dos diferentes segmentos étnico-raciais e sociais que compõem a sociedade, prontos a assumir, para além do discurso, o objetivo de combater racismos e discriminações. A fim de balizar sua atuação, no caso do Brasil, precisam conhecer e interpretar os termos das Leis 10639/2003 e 1465/2008 que determinam o estudo das histórias e culturas dos afro-brasileiros, dos africanos e dos povos indígenas. Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, o Conselho Nacional de Educação brasileiro, por meio do Parecer CNE/CP 3/2004 e da Resolução CNE/CP 1/2004 indica e desdobra princípios a serem seguidos em processos de educação das relações étnico-raciais, quais sejam, consciência política e histórica da diversidade, fortalecimento de identidades e de direitos, ações educativas de combate ao racismo e a discriminações.

Sendo você, negra, afrodescendente, que recomendação faria ?
Do ponto de vista das negras e negros, é importante insistir com os meios de comunicação que ao divulgar epistemologia, axiologia, ontologia de raízes africanas tenham em mira incentivar a luta pela eliminação de desigualdades, valorizar o sentimento de negritude para além da cor da pele, oferecer argumentos e despertar disposição para combater tudo que os oprime, descaracteriza, desqualifica não só os negros, mas todos aqueles que têm sido postos às margens da sociedade.

Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva


  
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Edição:

N.º 184
Ano 17, Dezembro 2008

Autoria:

Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva
Univ. Federal de São Carlos, Brasil
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva
Univ. Federal de São Carlos, Brasil

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