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Elementos emancipatórios nas práticas educativas cotidianas

SABERES/FAZERES/PENSARES FORA DA ESCOLA

"Ah, professor, sair da escola é tão bom..." (Juliana)

Esta frase nos mostra o quanto é importante para os alunos saírem da escola. O sair da escola e as especificidades dos modos como os alunos interagem nesses momentos, as diversas maneiras de experienciar a rua, a cidade, ou seja, os espaços não escolares são questões essenciais para entendermos os diversos processos de aprendizagem tecidos cotidianamente e a importÂncia de consideramos como eles estão enredados uns aos outros.
A organização dos alunos antes da saída ao passeio, no pátio da escola, provocou certo alvoroço, porque mesmo conhecendo os espaços da cidade, as saídas da escola são momentos especiais. Cada um permitindo a tessitura de novos sentidos e redescobertas dos espaços. Afinal, estavam se preparando para estar fora daquele espaço formal!
Sabemos que a escola muitas vezes se torna um lugar entediante, de deveres e obrigações, não prazeroso e mesmo sem sentido. A saída dela em grupo costuma ser prazerosa. Ao caminharem pela cidade, os estudantes mantêm contato com outros colegas fora das aulas e de modo mais espontâneo e sem controle direto, desenvolvem sua autonomia quando se co-responsabilizam pela organização do passeio.
Nesse dia, a turma foi visitar a exposição "Estética da periferia" no Centro Cultural dos Correios, no bairro do Centro do Rio de Janeiro, Brasil. Tratava- se de uma exposição onde diversos artistas da cidade apresentavam cenas do cotidiano urbano da cidade do Rio de Janeiro por meio de diversas formas de expressão artística. Mostrava várias vertentes da "arte popular" carioca como o grafite, a indumentária, fotos e objetos que fazem parte do cotidiano dos moradores das comunidades cariocas.
O espaço em que foi realizada a exposição "Estética da Periferia" geralmente apresenta produções de artistas europeus de renome. Isso evidencia uma preferência pela arte ocidental típica do etnocentrismo. O fato de a exposição estar neste espaço demonstra a valorização de outras formas e manifestações artísticas. Durante a visita os estudantes podiam estar em contato com o que desejavam ver dentre imagens e objetos presentes no cotidiano de suas vidas.
Assim, na exposição "Estética da Periferia" o acesso a conhecimentos e práticas culturais que fogem à lógica formal dos saberes escolares e da cultura ocidental, permite aos alunos quebrar a ordem instituída. Esta fuga do modelo desinvizibiliza os saberes/fazeres/pensares presentes no cotidiano da população de origem cultural diferente daquela valorizada e reconhecida pelo pensamento hegemônico.
Nesse sentido, podemos, então, reconhecer nessa atividade um caráter emancipatório, não só por ter se desenvolvido fora do espaço escolar, que permite o desenvolvimento da autonomia e de relações menos formalizadas, como também por ampliar as redes de saberes tecidas pelos alunos, incorporando a elas as aprendizagens não formais, para além dos conteúdos escolares. O contato dos alunos com manifestações culturais não hegemônicas promove a equalização da relação entre as diferentes culturas, favorecendo a superação da dominação social.

Suzana Martins Esteves
Diogo Vieira Nascimento
Lívia de Almeida Silva


  
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Edição:

N.º 184
Ano 17, Dezembro 2008

Autoria:

Suzana Martins Esteves
Grupo de pesquisa "Redes de conhecimentos e praticas emancipatórias no cotidiano escolar", Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, Brasil.
Diogo Vieira Nascimento
Grupo de pesquisa "Redes de conhecimentos e praticas emancipatórias no cotidiano escolar", Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, Brasil.
Lívia de Almeida Silva
Grupo de pesquisa "Redes de conhecimentos e praticas emancipatórias no cotidiano escolar", Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, Brasil.
Suzana Martins Esteves
Grupo de pesquisa "Redes de conhecimentos e praticas emancipatórias no cotidiano escolar", Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, Brasil.
Diogo Vieira Nascimento
Grupo de pesquisa "Redes de conhecimentos e praticas emancipatórias no cotidiano escolar", Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, Brasil.
Lívia de Almeida Silva
Grupo de pesquisa "Redes de conhecimentos e praticas emancipatórias no cotidiano escolar", Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, Brasil.

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