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A génese do desporto

A compreensão da história do desporto é imprescindível para uma participação e para uma intervenção o mais correcta e eficaz que é possível, no desporto como na sociedade em geral.
O termo inglês "sport" também foi largamente adoptado por outros países para designar os jogos de passatempos. Embora seja um termo intraduzível todos os países foram quase como forçados a introduzi-lo nas suas línguas.
Na França, o termo "sport" era caracterizado como uma palavra inglesa formada do antigo francês "desport", que significa prazer, diversão, sendo divulgado através das corridas de cavalos e das apostas, de acordo com os modelos ingleses. A moda desapareceu durante a revolução francesa e reviveu com o restabelecimento de uma classe alta, aristocrática. De facto, os tipos de passatempos dominados pelos aristocratas, propagaram-se a outros países, tendo sido adoptados pelas correspondentes elites sociais, antes de os tipos mais populares, como o futebol, desenvolverem-se com as características de um "sport" e propagarem-se a outros países como um passatempo de grupos da classe média e dos trabalhadores.
As sociedades contemporâneas procuravam uma sensação de prazer no desporto, contudo o mesmo se sucedeu na idade média, nas Cortes de Luís XIV, com os Gregos nas competições locais. É pois difícil clarificar se os jogos da antiga Grécia ressurgem nos séculos XVIII e XIX em Inglaterra denominado então de "sport".
"?a questão de saber se o tipo de competições de jogos que se desenvolveram durante os séculos XVIII e XIX, em Inglaterra, sob o nome de «desporto», e que desde aí se propagaram a outros países, era alguma coisa relativamente nova ou se tratava do reaparecimento de alguma coisa antiga que, sem explicação, estivesse desaparecida." (ELIAS 1992, p.189).
Analisando os primeiros registos de atletismo da Grécia antiga passando pela idade média, chegando ao renascimento, percebemos pois, que os jogos populares com o seu determinado grau de rudeza renascem para o mundo no século XIX e XX.
Os níveis de violência praticados nos jogos da antiguidade são bastante mais elevados do que na actualidade. Actualmente o desporto encontra-se altamente organizado e regulamentado, sendo diversas acções consentidas na antiguidade completamente proibidas e controladas nos dias actuais. " No pancrácio os adversários lutavam com todas as partes do corpo, as mãos e os pés, os cotovelos, os joelhos, os pescoços e as cabeças; em Esparta usavam mesmo os pés. Os lutadores do pancrácio podiam arrancar os olhos uns aos outros." (ELIAS 1992, p.201).
A noção actual do que é o "Fair-Play", não existia nestes tempos, não havia regras, nem preocupações pela integridade física dos adversários.
A ligação estabelecida entre a guerra e os concursos, considerava-se mesmo que os jogos eram preparação para a guerra, e por seu lado a guerra era o exercício para os jogos.
Contudo, não muito diferente de uma prática como o pancrácio na antiga Grécia, o pugilismo actual denominado de "boxe", em sociedades altamente cultivadas, assiste-se a um chamado "desporto", no qual dois homens batem-se com os seus punhos, mas não muito diferente dos nossos antepassados, passando a ser um "desporto", para uma situação de vida ou de morte.
A comparação realizada quanto ao nível elevado de violência nos jogos da Grécia antiga e dos Jogos da Idade Média, com a quase inexistência de violência dos jogos da actualidade é sem dúvida um resultado de um processo civilizacional.
Analisamos pois, que diversas modalidades desportivas, que se originaram da primeira génese do desporto moderno na Inglaterra, no meio do século XIX, surgem a partir de jogos de passatempo que são posteriormente regulamentados, a partir da constituição de regras e a uniformidade das condutas levando a transformação dos mesmos em desportos de competição.
A percepção e compreensão das origens do desporto ajudam-nos a entender melhor determinados acontecimentos sócio-desportivos e a vivencia-los de maneira diferente.

Bibliografia:
ELIAS, Norbert. A génese do desporto: um problema sociológico. In: ELIAS, N. e DUNNING, E. A busca da excitação. Lisboa: DIFEL, 1992. P.187-219.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 173
Ano 16, Dezembro 2007

Autoria:

Gui Duarte Meira Pestana
Coordenador e Docente do Curso de Motricidade Humana Instituto Piaget, ISEIT - Mirandela
Gui Duarte Meira Pestana
Coordenador e Docente do Curso de Motricidade Humana Instituto Piaget, ISEIT - Mirandela

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