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CiberLeitura ? III

«(?) a leitura é, e será, uma forma de emancipação do homem.»
Leonor Cadório, O Gosto pela Leitura (2001)

Contrariamente à linguagem oral, que evoluiu por sucessivas gerações de modo natural, a leitura é uma forma particular da língua que não é adquirida espontaneamente, logo, tem que ser ensinada. Nesse processo, recai sobre a escola uma grande responsabilidade.
A aprendizagem da leitura é um processo complexo e lento o qual requer motivação, esforço e prática de ambas as partes: de quem aprende e de quem ensina. Tal aprendizagem não se restringe aos primeiros anos de escolaridade; começa antes da entrada na escola e prolonga‑se por toda a vida. No entanto, a fase inicial (aprendizagem informal, antes da entrada na escola, e aprendizagem formal, já em idade escolar) é de extrema importância, pois dela dependem muitos dos hábitos e das atitudes do leitor.
Em idade pré‑escolar, dever‑se‑ão desenvolver com a criança actividades que a conduzam a i) compreender a finalidade da leitura, contactando com material escrito e reconhecendo‑lhe diferentes funções; ii) dominar os princípios da estrutura e da organização gráfica da escrita, percebendo que se escreve e lê de cima para baixo e da esquerda para a direita (na cultura ocidental, pelo menos) e que a escrita se organiza em unidades gráficas detentoras de um código a decifrar, e iii) desenvolver competências de leitura, conhecendo rimas e aliterações, as quais desenvolvem competências fonológicas facilitadoras da aprendizagem da leitura. Estes são pré‑requisitos essenciais para o sucesso da aprendizagem da leitura. O contacto com o livro, também o é, incontestavelmente, mas não esqueçamos outros suportes de leitura. Na sociedade contemporânea, o computador é um objecto extremamente próximo do quotidiano infantil. «As crianças de hoje crescem no seio da cultura do computador (?)» (Turkle, 1997) e lidam com ele como um objecto no limiar do vivo, dadas as suas características reactivas e interactivas. A aprendizagem da leitura utilizando também o computador é, portanto, uma das possibilidades que importa estimular.
Após a aprendizagem do código escrito, é necessário que o aluno evolua para uma leitura progressivamente mais fluente e com mais sentido(s), já que se torna muito difícil, ou mesmo impossível, extrair significado de um texto sem se ler fluentemente. Para Inês Sim‑Sim & Ferraz (1997), a fluência resulta da combinação entre decifração precisa e eficácia na extracção de significado. Um leitor fluente não só descodifica e compreende simultaneamente, como despende menos esforço e tempo na leitura. A fluência consegue‑se treinando os mecanismos de automatização, ou seja, as rotinas e os sistemas mentais necessários no processamento da informação.
Uma vez adquirida a competência da leitura é urgente ler. Ler incessantemente, pois só a prática da leitura poderá incrementar o gosto por essa actividade e poderá, também, tornar cada vez mais fácil a compreensão dos textos. Com a aprendizagem e prática da leitura, há 3 consequências certas: i) desenvolvimento da linguagem ? «(?) as palavras de frequência moderada e as palavras raras aparecem muito mais vezes na linguagem escrita do que na linguagem falada» (José Morais, 1997); ii) aperfeiçoamento dos instrumentos e hábitos de estudo, assim como nos processos de organização da informação e, em contexto educativo, iii) domínio de uma competência transversal ao currículo. John Potts (1979) é muito claro a este respeito: «Sendo a leitura um instrumento básico e necessário a quem quiser obter êxito no ensino formal, a falta de capacidade para usar a leitura com eficiência aumenta as possibilidades de um estudo defeituoso na maioria das disciplinas do programa.».
Tanto em leituras escolares/ profissionais como em leituras por prazer (interessantes temas para futuras abordagens), e independentemente do suporte de leitura, texto e leitor são elementos essenciais. Ambos interagem num círculo positivamente viciante que favorece o conhecimento, a autonomia e que tornará o leitor um indivíduo mais crítico. Assim, terá melhor auto‑conhecimento, conhecimento dos outros e do mundo que o rodeia, permitindo‑lhe inquietação, mas também libertação, pelo poder que tem de pensar individualmente.
Notas finais de Ciberleituras, na próxima Parte IV.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 165
Ano 16, Março 2007

Autoria:

Betina Astride
Agrupamento Vertical de Montemor-o-Novo
Betina Astride
Agrupamento Vertical de Montemor-o-Novo

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