Página  >  Edições  >  N.º 165  >  Um comboio sem travões

Um comboio sem travões
Podia ser a definição de guerra mas é a imagem que o presidente do Irão, Mahmoud Ahma, escolheu para definir a irreversibilidade do programa nuclear iraniano. "O Irão domina a tecnologia da produção de combustível nuclear. Este é um comboio que avança e que deixou de ter travões e marcha-atrás", disse o presidente, falando para militares e polícias iranianos.
A resposta não se fez esperar. O vice-presidente norte-americano Dick Cheney admitiu o recurso à opção militar para deter as ambições nucleares iranianas. "Seria um grave erro se um país como o Irão se tornasse uma potência nuclear", disse o nº 2 dos Estados Unidos da América em Sydney, falando numa conferência de imprensa ao lado do primeiro-ministro australiano John Howard.
O Conselho de Segurança da ONU aprovou, em Dezembro passado, uma resolução com sanções ao Irão se o programa iraniano de enriquecimento de urânio não fosse suspenso numa prazo máximo de 60 dias. Segundo a Agência Internacional da Energia Atómica, em vésperas do fim do prazo concedido, o Irão não estará a cumprir o ultimato.
Neste contexto, Washington, Londres e Paris, três membros efectivos do clube nuclear, defendem a adopção de sanções mais fortes contra Teerão. Os outros dois países que reconhecidamente possuem armas nucleares ? a China e a Rússia ? mostram-se mais moderados, posição que também é seguida pela Alemanha, uma potencia não nuclear.
George Bush, cuja estratégia belicista, nomeadamente no Iraque, tem vindo a perder, internamente, apoios, nega qualquer intenção de entrar em guerra com o Irão, falando em acções diplomáticas tendentes a evitar que Teerão aceda à tecnologia nuclear, hipótese que os próprios iranianos parecem não inviabilizar ao dizerem-se abertos a um diálogo sem condições
Mas o vice- ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Teerão, Manouchehr Mohammadi vai dizendo que o país está preparado para enfrentar todas as situações, incluindo a guerra, enquanto alguma imprensa ocidental normalmente bem informada em matéria de defesa revela que os Estados Unidos já elaboram os planos para atacar o Irão.
Nós, que vemos vários canais de televisão, estamos preparados para aceitar esta "inevitabilidade". Pior estão os soldados que continuam a ir para o Iraque e principalmente os iraquianos, como por exemplo os estudantes da Faculdade de Economia da Universidade de Bagdade, os alvos mais mediáticos da violência no dia em que sublinhava estas linhas.

  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 165
Ano 16, Março 2007

Autoria:

Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias
Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo