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Sonhos desfeitos

Vivemos numa sociedade de sonhos desfeitos, desde criança temos vários sonhos, sonhos estes que ao longo da vida vão desaparecendo, mas ficam sempre ligados a nós permanecendo no nosso subconsciente, estes sonhos são mais tarde recordados com uma certa nostalgia que nos abraça. Ao passar dos anos vamos redefinindo os nossos sonhos adaptando-os à nossa instância actual, por vezes os sonhos que foram criados em criança e não foram conseguidos são mais tarde inconscientemente realizados.
Mas na actualidade, o que são feito dos sonhos, sonhar tornou-se menos usual, e o pragmatismo toma conta das nossas vidas álgidas, o realismo está cada vez mais presente no nosso dia a dia. As crianças sonham cada vez menos, e a realidade fleumática da nossa sociedade contribui extenuadamente para uma vida sem sonhos. Não existe espaço para dar asas à criatividade, à imaginação, à fantasia. Os sonhos tornaram-se globalizantes. Sem espaço para sonhar, as vidas perdem o seu sentido, o seu significado.
Alguns dos nossos sonhos são desfeitos ao longo da nossa vida, outros são transformados em realidade, mas não devemos parar de sonhar, devemos procurar sonhar dando asas à nossa liberdade de imaginação, transmitindo esse principio às crianças e proporcionando-lhes momentos de sonho. Através da sua imaginação, devemos deixar sonhar as crianças e estimula-las a isso. Através do sonho somos capazes de descobrir quem realmente somos e aquilo que nos faz realmente felizes. Para uma criança é deveras importante sonhar e deixar-se guiar por um mundo de fantasia ao redor dela, criando nela um gosto pelo sonho e pela vida.
Os sonhos não são apenas uma espécie de tráfego de informação, são a forma própria do nosso inconsciente se expressar. O nosso inconsciente não é mais do que um conjunto de factos e processos psíquicos, de natureza praticamente inexplicável, misteriosa, obscura, de onde nascem as paixões, o medo, a criatividade e a própria vida e morte.
As nossas escolas não estão preparadas para os sonhos das crianças, a nossa sociedade não se preocupa com os sonhos das crianças, os sonhos são desfeitos, e passam a ser utopias sem sentido, perdem-se os sonhos, perde-se a felicidade.
Para muitas crianças o sonho é a única forma de felicidade. Ao crescer a criança apercebe-se que tudo não passa disso mesmo, um sonho, uma ilusão. Devemos ensinar às crianças que o sonho não termina. Devemos continuar a sonhar ao longo da nossa vida, procurando concretizar os nossos sonhos em realidade, e não viver em profunda melancolia se isso não acontecer. Os sonhos são aquilo que nós queremos que sejam, e ninguém pode roubar o nosso direito a sonhar.
Se lutarmos por aquilo que acreditamos e que nos faz mover estaremos a lutar pelos nossos sonhos, se abdicarmos de lutar e subjugarmo-nos à triste sociedade, transformar-nos-emos em peças de um puzzle sem termo, sem sentido, que não encaixam umas nas outras, seremos pois infelizes e viveremos numa obscuridade extrema.
Devemos lutar por aquilo que somos e lutar por um futuro de sonho para as crianças, todos nós sonhamos um futuro para nós e para os outros mas o que realmente fazemos por esse futuro? Pergunto-me se não nos preocupamos demais com o quotidiano em prol de um bem-estar artificial.
"Sonhar é viver o passado no futuro, e o futuro no presente, é ter o se quer, e afastar o que não se deseja, é despertar dentro de si aquele ser criança.
Se reprimirmos a nossa capacidade de sonhar estaremos a lutar contra a própria essência humana, e sonhar é preciso. "Para sonhar não é preciso ter passado, nem presente, nem cultura, nem riquezas; para sonhar não precisa fazer parte, de uma classe social, de uma faixa etária, ou de qualquer coisa que separe um ser humano do seu semelhante, é preciso apenas ter esperança pois sem esperança ninguém vive e sonhar é viver".
Um sonho só deixa de ter sentido quando abdicamos de lutar por ele.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 164
Ano 16, Fevereiro 2007

Autoria:

Gui Duarte Meira Pestana
Coordenador e Docente do Curso de Motricidade Humana Instituto Piaget, ISEIT - Mirandela
Gui Duarte Meira Pestana
Coordenador e Docente do Curso de Motricidade Humana Instituto Piaget, ISEIT - Mirandela

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