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Os planos de acção para a matemática

O insucesso na disciplina de Matemática é um problema antigo; apesar de muitas análises e propostas, a situação manteve-se praticamente inalterada ao longo de todo o século XX. Por exemplo, em 1968, o notável matemático e pedagogo José Sebastião e Silva, numa entrevista ao jornal "A Capital", lamentava as reprovações que no secundário atingiam 80% dos alunos, notava que no superior "em certas cadeiras, a percentagem de reprovações atingia 90%" e já chamava a atenção para a necessidade de "orientação e de recuperação ? à semelhança do que se faz em outros países" dos "alunos mal preparados ? que são quase todos." Actualmente não só temos as maiores taxas de reprovação no Ensino Básico de toda a OCDE, como os resultados nos exames do 9º ou nos testes do PISA e no TIMSS nos colocam numa posição pouco confortável.
O Ministério da Educação lançou recentemente o primeiro plano de grande envergadura de que há memória para tentar combater o enorme insucesso na disciplina de Matemática: o Plano de Acção para a Matemática. A resposta das Escolas Básicas foi enorme e é impossível não notar toda a actividade que gerou. Registo positivamente que os professores de Matemática, com o apoio das suas escolas, conseguiram dar um sentido a áreas quase sonâmbulas como a Área de Projecto ou o Estudo Acompanhado, investem na co-docência, planeiam actividades significativas com os computadores portáteis recentemente colocados nas escolas, ajudam os alunos com mais dificuldades, tanto na sala de aula como em salas de estudo criadas ou reforçadas, e reúnem para planear conjuntamente as suas aulas e actividades (infelizmente no passado tal era demasiado raro). Ainda é cedo para ter uma ideia da sua verdadeira amplitude e eficácia, mas este arranque é muito prometedor.
Contudo o plano referido é dirigido especialmente aos 2º e 3º ciclos do Ensino Básico. E o Ensino Secundário? Será a situação menos grave do que no Ensino Básico? Apesar de muitos dos problemas do Ensino Secundário estarem ligados aos problemas do Ensino Básico, o Ensino Secundário também tem os seus próprios problemas e os resultados nos exames do 12º ano são um indicador de que a situação é insatisfatória. Por outro lado, a necessária diversificação de disciplinas da área da Matemática (neste momento há 6 diferentes) traz exigências novas aos professores de Matemática que obrigam a um maior trabalho cooperativo e uma maior formação contínua; contudo, em muitas escolas, disciplinas como Matemática Aplicada às Ciências Sociais apenas têm um único docente nessa escola pelo que não tem ninguém com quem trabalhar (na sua escola).
Entre 1997 e 2002 o Ministério da Educação organizou um programa de "Acompanhamento da Implementação dos Programas de Matemática" (ver texto de Judite Barbedo no número 142 deste jornal) que foi parcialmente avaliado pelo extinto IIE mas foi abrupta e inexplicavelmente interrompido. A interrupção do processo parece-me que foi muito negativa: nunca há formação contínua a mais, nunca se discute demasiado a prática que se pretende levar para a sala de aula; e também surgem novos problemas que merecem resposta do sistema educativo. A verdade é que deixaram de existir reuniões entre professores de escolas vizinhas, deixou de haver troca de materiais, e deixaram de se desenvolver projectos conjuntos no sentido de apoiar os alunos com mais dificuldades, etc.
Espero que "Os Planos de Acção para a Matemática" do Ensino Básico continuem e evoluam mas nunca acabem e que uma actividade semelhante seja retomada no Ensino Secundário.

Quem quiser saber mais sobre o que foi o Acompanhamento do Secundário pode consultar:

http://www.prof2000.pt/users/coimbracom/home.htm
http://www.prof2000.pt/users/portoint/
http://www.educunha.net/acompanhamento/
http://membros.aveiro-digital.net/matematica/acompanhamento/
http://www.prof2000.pt/users/adam/MatematicA/Textos/bAiLe.pdf
http://www.dgidc.min-edu.pt/inovbasic/edicoes/noe/noe55/dossier03.htm


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 163
Ano 16, Janeiro 2007

Autoria:

Jaime Carvalho e Silva
Univ. de Coimbra, Fac. de Ciências
Jaime Carvalho e Silva
Univ. de Coimbra, Fac. de Ciências

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