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Aquecimento e derretimento do árctico forçam êxodo de povoado do Alasca

Os Inupiaq - como são chamados os esquimós do norte do Alasca - do povoado de Shishmaref, no estado americano do Alasca, viveram durante gerações na ilha, mas com o aumento do nível das águas em todo o território e as destruições provocadas pelas violentas tempestades, estão a ser forçados a afastar-se dos mares de onde sempre tiraram o seu sustento.
A angústia no povoado do Alasca é um exemplo iminente dos efeitos dramáticos do aquecimento global, tanto quanto desafia o estilo de vida de toda a comunidade.
Ventos varrem a ilha de lado a lado e as águas profundas do mar Chuckchi, ao norte do estreito de Bering, a apenas 150 quilómetros da Rússia.
Repetidas e violentas ondas destruíram barcos, reservas de peixes e armazéns que, contudo, não representam a verdadeira ameaça, alertou um oficial que observou o Êxodo do povoado. Uma casa desabou e cerca de 20 moradores tiveram que deixar o litoral. 
"Em cada ano (...) angustiamo-nos com a possibilidade de a próxima tempestade ser aquela que nos destruirá por completo" disse à AFP Luci Eningowuk, presidente da Coligação de Erosão e de Realocação de Shishmaref.
Aproximadamente 600 pessoas, na sua maioria Inupiaq, moram na ilha, situada cerca de 200 Km ao norte da cidade mais próxima, de onde um pequeno avião leva os visitantes à ilha.
O povoado, na ponta de uma ilha de 600 metros de largura e cinco  quilómetros de extensão, situa-se sobre solo gelado conhecido como "permafrost", que é vulnerável à erosão e ao aumento de temperatura.
"Houve um significativo aquecimento no Alasca pelo menos nos últimos 30 anos. A temperatura do ar está a aumentar e a temperatura no solo congelado também", afirmou Vladimir Romanovsky, professor de geofísica na University do Alasca em  Fairbanks. O descongelamento torna o permafrost mais vulnerável às inundações causadas pelo derretimento das banquisas e geleiras, que provocam o aumento no nível do mar, acrescentou Romanovsky.
Deborah Williams, ex-diretora-executiva da Fundação de Conservação do Alasca, advertiu no ano passado que o estado americano estava em risco. "O Alasca é a ponta de um iceberg derretendo, ou um canário numa mina de carvão à beira do colapso", alertou em Abril de 2005. Os canários são usados como "sentinelas" pelos mineiros de carvão. Por serem muito sensíveis, estes animais morrem ao menor sinal de derrame de gás, alertando os mineiros para saírem imediatamente do local.
Robert Corell apresentou ao comité do Senado americano em 2004 um estudo sobre o impacto da mudança climática no árctico. "As mudanças climáticas estão a ser cada vez mais comuns e estão a ser sentidas de forma cada vez mais intensa na região do árctico, disse Corell aos parlamentares.
Os moradores da região sentem-se cada vez mais ameaçados. Pensar que podem ter de se deslocar para terra firme é considerar o fim de uma civilização com mais de 4.000 anos de história.


  
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Edição:

N.º 161
Ano 15, Novembro 2006

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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