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Alunos ditos ?especiais? mostram a sua visão do cotidiano, do mundo e da vida

Projeto meu olhar

Vou tentar resumir o que desenvolvo na Escola Carolina Patrício Educação Especial, para que conheçam uma experiência que ? pelas pesquisas que fiz até agora ?parece inédita.
Não costumo alardear o que faço, mas seria "além do humano" resistir à tentação de informá-los, para que conheçam ? em primeiro lugar - a realidade sobre o potencial desse contingente humano, foco ainda de freqüente discriminação e preconceito.
Eu e os alunos chegamos JUNTOS a esse Projeto.
Meu tema, como psicóloga, fora do consultório (nunca consegui me limitar a ele, daí a opção pela Pós em Sociologia) é a IDENTIDADE.
Para deflagrá-lo, comecei experimentando técnicas dinâmicas (com exercícios corporais, colagens, esculturas, música, etc.) que visavam às questões de Identidade Corporal.
Em seguida, trabalhamos ora as questões de Gênero (que apareceram como tema intermediário necessário), ora as Profissionais, foco principal combinado desde 2001.
O trabalho foi crescendo, e comecei (a pedidos) a trabalhar, também, as famílias dos alunos.
Como a maioria de amigos e conhecidos sabe, o principal foco de minha rotina profissional é a Identidade Masculina, mas não foi só por isso que deflagrei lá, a partir daquele momento, a CAMPANHA PELO APEITAMENTO PATERNO.
Se a identidade masculina e a paternidade são temas complexos na sociedade como um todo, nas famílias onde nascem crianças com necessidades especiais a situação o é ainda mais .
Em Novembro e Dezembro de 2004 deflagrei novo desenvolvimento do Projeto inicial, que intitulei PROJETO MEU OLHAR, no qual pedi aos pais que trouxessem máquinas fotográficas para seus filhos trabalharem comigo; o Projeto ainda está em andamento, pois máquinas chegam até hoje, de alunos antigos, e de novos alunos que vão sendo matriculados.
Foram delimitados TEMAS.
Parte deles é desenvolvida comigo na própria Escola.
Parte dos temas é desenvolvida com os familiares, em casa.
Tudo converge para que eles sejam estimulados a fotografar SUA (deles) VISÃO DO MUNDO, e a comentá-la. A maioria já sabia usar a máquina fotográfica; os demais aprenderam; rapidamente.
As fotografias são reveladas, e enviadas para a Escola; a maioria das famílias envia os negativos e os comentários do aluno durante o processo das fotografias, como pedi a elas.  O resultado seduz a todos que vêem.
É feito um mural (muito modesto) com as fotografias de cada aluno, ilustrado com o texto dos comentários feitos, parte na Escola (comigo e os colegas), parte (quando é o caso) com os familiares.
Num dia previamente marcado, o aluno e sua família apresentam seu mural para os colegas, falando tudo o que consideraram importante sobre o processo e o que ficou ali registrado; em seguida, os colegas "sabatinam" o aluno e sua família sobre o que foi apresentado.
O sucesso desse procedimento tem começado a levar algumas famílias a ir assistir a apresentação de outros alunos (que não seus próprios filhos), e os benefícios previamente aguardados do Projeto se multiplicam em novos e inesperados fenômenos de evolução comportamental de todos os envolvidos.
Em 2005, entrou em cartaz o filme "Do luto à Luta". Nos debates que o acompanharam, surgiu, recorrentemente, uma questão: ? "...Finalmente o Mundo está olhando para estas crianças especiais...mas ainda não sabemos como essas crianças especiais olham para o Mundo"... Começo a informar, a quem não sabe, que este registro começou a ser feito, sim!....
Gostaria de tornar públicas as (sempre surpreendentes) fotografias elaboradas por nossos (aproximadamente) 90 alunos, entre crianças e adolescentes (e alguns adultos), para que se comece a tornar - finalmente - público ..."o olhar deles sobre o Mundo"..., como foi detectado na reflexão deflagrada pelo filme citado, SEM ESQUECER QUE NESTE CONTINGENTE A IDENTIDADE INDIVIDUAL / SINGULAR TAMBÉM ESTÁ  OBVIAMENTE PRESENTE!...
Este Projeto foi apresentado, a convite da FIOCRUZ, em seu Museu da Vida, na tarde do dia 19 de Maio de 2006, no evento ?Mostra Curiosidade e Memória?.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 160
Ano 15, Outubro 2006

Autoria:

Cristina Montenegro
Psicóloga, Brasil
Cristina Montenegro
Psicóloga, Brasil

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