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Evolucionismo versus criacionismo na sala de aula

Controvérsias

Não são poucos os casos nos quais as controvérsias entre evolucionismo e criacionismo fizeram penetrar suas discussões no âmbito escolar, em interferências ou decisões legais sobre aquilo que os professores poderiam ou não ?ensinar? e aquilo que os alunos poderiam ou não ?aprender? sobre o tema em questão.
Um famoso episódio ocorreu em 1925, no Tennesse, EUA, onde o professor John Scopes foi condenado por ensinar a teoria da evolução. Desde 1920 havia se tornado ilegal o ensino dessa teoria nas escolas americanas. Em 1960, a história do professor Scopes foi contada no filme intitulado Inherit the Wind (no Brasil, traduzido por ?Herdeiros do Vento?).
Foi na década de 1960 que professores e cientistas americanos reviram o conteúdo de Biologia dos currículos escolares, reformulando-o com a elaboração de novos textos e livros que incluíam a evolução.
Entretanto, as discussões judiciais ou extrajudiciais entre criacionistas e evolucionistas não cessaram, continuaram ainda mais freqüentes da década de 1970 até os dias atuais. Lima (1993, p.26) cita o exemplo de um dos livros didáticos de Biologia mais vendidos nos Estados Unidos que tinha, em 1973, após a reformulação curricular, 18 mil palavras relacionadas com a teoria da evolução. Em 1981, esse número caiu para 13 mil por causa de pressões do órgão responsável pela seleção e distribuição dos livros didáticos nas escolas públicas americanas.
Entre os anos de 1980 e 1990, o ensino das teorias evolucionista e criacionista passou muitas vezes por julgamentos nos tribunais americanos. Um recente episódio ocorreu em agosto de 1999, no qual o Conselho de Educação do Estado de Kansas decidiu novamente pela retirada da teoria de Darwin do currículo escolar, com a ressalva de que ela poderá ser mencionada nas escolas que desejarem, mas por força de lei permanecerá fora das provas ou exames finais.
A repercussão no Brasil foi rápida, em destaque nos principais jornais e revistas do cotidiano. O mesmo aconteceu em áreas da ciência e educação. O Jornal da Ciência, publicado pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), por exemplo, reproduziu as críticas que a Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos fez ao Conselho de Educação de Kansas.
Não conhecemos profundamente a realidade de Portugal. No Brasil, a influência criacionista no ensino mostra-se menor, mas não é desprezível e parece ganhar cada vez mais espaço, notadamente na disseminação de suas idéias por intermédio da mídia. Fato que pode indicar, no passar dos anos, aumento nos debates também em nosso país. Não esqueçamos ainda que determinadas igrejas com crenças criacionistas são mantenedoras de escolas e editoras de livros didáticos, o que também ocorre com igrejas de crenças evolucionistas.
O problema não está somente centrado nas controvérsias científico-religiosas do embate entre evolução ou criação dos seres vivos; mas, emanadas dessas controvérsias, o problema se expande em perspectivas de omissão ou favorecimento nas atitudes ou posturas de sala de aula, com possibilidades de criar sofrimentos, angústias ou constrangimentos, mesmo que não exteriorizados, nos indivíduos participantes do processo educacional.
Do ponto de vista pedagógico, aceitamos a proposta de Vincenti (1994), na qual ?nenhuma verdade pode ser aceita ou admitida, ela deve ser construída e reconhecida?. Para uma condução a ações morais efetivamente livres, a educação formal não pode trilhar por caminhos que aniquilam a vontade de escolha dos alunos. Age-se, muitas vezes, em toda essa polêmica como se os estudantes não tivessem nenhum valor moral. Como assinala Puig (1998), a escola deve ter como objetivo o estímulo que possa levar os alunos ?à compreensão de quais são realmente os seus valores, para se sentirem responsáveis e comprometidos com os mesmos?; evitando-se, portanto, todo e qualquer tipo de ?doutrinação ou inculcação?.

Referências bibliográficas:

  • LIMA, C.P. (1993) Evolução biológica - controvérsias. São Paulo: Ática.
  • PUIG, J. M. (1998) A construção da personalidade moral. São Paulo: Ática.
  • VINCENTI, L. (1994) Educação e liberdade - Kant e Fichte. São Paulo: Editora Unesp.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 159
Ano 15, Agosto/Setembro 2006

Autoria:

Júlio César Castilho Razera
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Brasil
Roberto Nardi
Físico, Doutor em Educação (UESP) e Professor Livre Docente da Faculdade de Ciências, da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Júlio César Castilho Razera
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Brasil
Roberto Nardi
Físico, Doutor em Educação (UESP) e Professor Livre Docente da Faculdade de Ciências, da Universidade Estadual Paulista (UNESP).

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