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O movimento

Diz-se que foi Portugal a começar a Globalização. Terá sido, por ter feito um Império pluricontinental, por ter propiciado condições para trocas culturais imensas, uma realização nova até então (cerca de 1500). A ?Expansão? Portuguesa é notável: da conquista de Ceuta em 1415, à chegada de Vasco da Gama a Calecut em 1498, passando pelo desembarque de Cabral em 1500, ou pela chegada ao Japão em 1543, tratou-se de uma sucessão muito rápida. Houve no entanto diferenças em relação ao processo a que vimos assistindo agora. Antes do mais, hoje é possível a comunicação em tempo real e os próprios transportes têm baixo custo, tratando-se de transportes de massa, como é o caso da marinha mercante. Assim, pela primeira vez, é possível enviar ordens imediatas e a baixo custo para qualquer ponto do planeta. Durante o ?Euro 2004?, uma cidade chinesa terá produzido, numa semana, cerca de três milhões de bandeiras portuguesas, que chegaram a tempo do frenético evento. Quem diz bandeiras diz qualquer coisa. É possível transmitir imagens em tempo real, obtendo respostas rapidíssimas. Isso significa que a exploração de recursos humanos e materiais, onde eles existam mais baratos, é hoje fácil de realizar sem qualquer dose de imaginação especial. Assim os trabalhadores portugueses ou brasileiros são colocados na situação de competirem com todos os que são pior remunerados, estejam onde estiverem. É possível, desta forma, pensando em qualquer objecto, encontrar onde o produzir com menores custos e maior velocidade, ou seja, com maior lucro para a organização detentora do produto. É absurdo falar aos nossos jovens na necessidade de se especializarem mais, quando já se sabe que as grandes empresas não procuram bem isso, antes querem gente em quantidade, dócil e sem força sindical. É visível a quantidade de jovens licenciados nas mais diversas áreas, que se encontram no desemprego. Existe assim uma situação do mais incrível cinismo, caracterizada pelos elogios à Democracia e à luta eleitoral, optando quem tais elogios faz, cada vez mais, pelo apoio ao regime chinês?e ao indiano, mais recentemente. China e Índia que terão em breve quase metade dos seres humanos existentes. Representam sociedades profundamente desiguais, aflitas pelo excesso de gente e de poluição, mas são-nos apresentadas como o futuro de todos nós! Talvez o constituam. Devíamos estar felizes por vivermos no começo deste Século XXI, do qual ainda hão-de existir saudades. Parece que este artigo não tem nada de novo, mas ocorre um pensamento curioso, quando se fala da Globalização e das suas raízes históricas. Tal como aconteceu durante a ?Expansão? europeia, nesta nova ?Globalização? recorre-se sem escrúpulos ao trabalho escravo ou infantil ou pelo menos ao muito mal pago. Neste caso verifica-se uma espécie de eterno retorno, ou será eterna tendência para o retrocesso?


  
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Edição:

N.º 155
Ano 15, Abril 2006

Autoria:

Carlos Alberto Mota
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real
Carlos Alberto Mota
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real

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