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Comentário às aulas de substituição, ao estudo acompanhado e às salas de estudo nas nossas escolas desde que foram "inventadas".

O Ministério da Educação, tem procurado desenvolver ao longo destes últimos anos, políticas  diversificadas que visam diminuir o insucesso escolar e, consequentemente, tentam promover a qualidade do ensino. Seja através das dispersivas e aberrantes áreas de projecto, seja através das aulas de substituição (mas o que têm sido, verdadeiramente, as aulas de substituição?), estudo acompanhado e salas de estudo. O certo é que, lamentavelmente, ao nível do 2º e 3º ciclos são muitos os alunos que não sabem ler, escrever correctamente e não sabem efectuar operações básicas  na disciplina de Matemática! Alguma culpa poderá ser atribuída a certos professores reincidentes nas faltas, que, com a suas ausências, também prejudicarão o rendimento dos alunos. Mas o problema é mais complexo e vasto e não se esgotará nas faltas dos professores(as), muitos deles casados(as) e colocados(as)  longe de suas casas, com ordenados exíguos em nada compatíveis com a dignidade do cargo.
As aulas de substituição, ou as eufemísticamente designadas  ?actividades de substituição? continuam a ser um verdadeiro fiasco no nosso país, para não as rotular de ridículas e vexatórias. Desde logo por:

  1. Não fazer sentido colocar, por exemplo, um professor(a) de Filosofia a substituir um outro de Educação Visual, ou um professor(a) de Inglês substituindo um docente de Matemática ou ainda um professor(a) de Língua Portuguesa imiscuindo-se numa aula de Educação Física. Naturalmente que nestes, e noutros casos, os professores estão ? tomando conta dos meninos e das meninas?, aproximando-se do papel de auxiliares de educação e estando sujeitos aos comentários destemperados dos alunos que vêem os professores como intrusos. Mesmo que o professor substituto seja da mesma área disciplinar ou do mesmo grupo, existe relutância, por parte dos alunos, em aceitá-lo, pese embora, à partida, seja benéfico para a turma a presença de um professor que recapitule ou reforce a aprendizagem cognitiva dos alunos  habituados ao ?verdadeiro? professor. E ao seu método.
  2. O que atrás se referiu implica que as aulas ou as actividades de substituição devam nascer de projectos  pensados, discutidos e elaborados. Para isso é necessário planificar e ajustá-los às diversas turmas. Planificar significa tempo. Trabalho ciclópico para o professor que passaria a ter inúmeras turmas. Tal seria insustentável e inumano. Mas mesmo que se tornasse viável, realizar significa dispor de recursos financeiros. Igualmente seriam necessários espaços que em muitíssimas escolas não existem (lembremo-nos que as escolas apresentam horários que vão das 8.30 h às 17 ou 18.30...)
  3. Os alunos que, na generalidade, vão para essas aulas, contrariados, potenciando desse modo a indisciplina e a má educação, afirmam que não têm nada para estudar, para fazer ou dizem que se esqueceram dos livros... Depois pedem aos professores para fazer jogos ou outras actividades lúdico-recreativas (brincadeiras) e, como o professor não está para se aborrecer, visto que  não pode exercer plenamente a autoridade, acede  ao pedido. Ou seja, a senhora ministra castiga, ou tem castigado, duplamente, os  professores e os alunos encerrando-os numa sala de aula, sem proveito absolutamente nenhum, à espera, ambos, que soe  o toque da campainha e cesse o martírio. Por isso é que os docentes afirmam que a senhora ministra, Maria de Lurdes Reis Rodrigues, com as suas imposições ridículas (e para mostrar serviço), veio, com as suas discutíveis iniciativas, perturbar ainda mais a vida nas escolas e avacalhar o exercício da docência. Essa é a pura verdade. Tendo uma particular atracção pelo afrontamento gratuito, pejada de ideias fixas para o sistema educativo, instalou a instabilidade  nas escolas com as pseudo-aulas de substituição. A própria ministra tem noção, inconscientemente, do desaproveitamento destas pseudo-aulas, pois chegou a afirmar, liricamente, que os professores até podem ?ler poesia ou fazer umas graças? (!!?). Serão graçolas!? Será fazer o pino na sala de aula? Ou fazer de professor-palhaço ou professor-entertainer?
  4. Não se poderá deixar de mencionar um artigo escrito há bem pouco tempo, no jornal ?PÚBLICO?, por um professor de nome Ribeiro Aires que teve o primor de desmascarar a balbúrdia e as intenções desconexas e desconchavadas da déspota iluminada que tutela  o Ministério da Educação. Referia o dito docente: ?O Ministério da Educação engendrou uma ideia, lançou-a ao mar e disse do cais: voga, voga e seja o que Deus quiser; que os ventos te sejam favoráveis. Aos Conselhos Executivos, que gostam imenso de executar, e aos professores, ?paus para todas as colheres?, disse tão-somente: agora desenrasquem-se. O meu tio Sebastião costuma dizer deste modo: agora cozei-vos! Ou será outro linguajar mais expedito, sem papas na língua??
  5. As aulas de estudo acompanhado, aulas onde será suposto os professores acompanharem, apoiarem os alunos na resolução ou ultrapassagem  de dificuldades que eventualmente despontem, vêm surtindo algum efeito para os poucos discentes interessados  e empenhados. A maioria dos alunos, no entanto, não aproveita devidamente estas aulas. Tornam-se barulhentos, indisciplinados, implicativos com pouca vontade de aprender e estudar. E o que é grave é que o professor está destituído de autoridade na escola democrática que temos e tudo o que faça para tentar impor essa mesma autoridade pode resultar em ?arranjar lenha para se queimar?.
  6. Igualmente a sala de estudo só será proveitosa para  os alunos responsáveis, empenhados e trabalhadores. Infelizmente um considerável número de alunos dispensam e desprezam o esforço, a exigência, o rigor, o método, desprezando-se assim uma preparação necessária à vida activa dos futuros cidadãos. Vivemos numa cultura de sobreprotecção das crianças e dos adolescentes, enquanto, por outro lado, paradoxalmente, os desprotegemos, descurando-se a educação integral e a verdadeira avaliação dos conhecimentos, competências e capacidades cognitivas.
  7.  ?Et pour cause? estamos na cauda da Europa e somos os mais pessimistas da Comunidade Europeia, segundo uma sondagem realizada a nível internacional. Somos, enfim, os terceiro-mundistas da UE com uma senhora ministra que, para levantar o ânimo, julga que os professores servem para produzir graçolas e ler poesia...
    Estamos conversados e convencidos acerca da real (in)competência da senhora.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 153
Ano 15, Fevereiro 2006

Autoria:

António Cândido Miguéis
Professor
António Cândido Miguéis
Professor

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