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A qualidade barata

Costumava dizer-se que o barato sai caro. Será que já não é assim? Talvez não. Recentemente descobriu-se e insiste-se cada vez mais na tese oposta. ?O barato é barato, sai mais barato.? Parece óbvio, por certo está certo, ou será que não? Desde há algum tempo venho sentindo as acusações feitas em ?várias sedes? contra os ?funcionários públicos?. Sendo funcionária pública desde 1980, sei que há quem não trabalhe como deve, na função pública. Mas há muitos outros casos, conheço especialmente o caso dos professores e dos educadores de infância. Devemos colocar algumas questões a este discurso sobre os ?funcionários públicos?. Por exemplo, será que o facto de as empresas privadas portuguesas não serem competitivas se deve ao mau desempenho dos seus gestores? Será? Alguém pergunta isto? Será que quando uma empresa (haja imaginação) se ?deslocaliza?, deixando por cá desemprego e desespero tal facto tem algo a ver com os proprietários da dita empresa? Será que o facto de as pescas portuguesas estarem como estão é responsabilidade dos ?funcionários públicos?? E a agricultura, ou a pecuária? Têm dificuldades devido aos ?funcionários públicos?? Quem são esses funcionários de que nos falam? Textos em jornais falaram da falta de civismo dos colegas do Ensino Secundário porque quiseram fazer greve. As greves incomodam? Mas porquê? Se os professores nada fazem, afinal faziam falta? E se as greves incomodavam, incomodarão sempre. Mas há mais: os professores usaram de ?crueldade? (!) chegou a escrever um senhor num ?jornal de referência?. Crueldade? E alguém se lembra (Ah! Memória Selectiva!) alguém se lembra da forma como os professores do Ensino Secundário foram tratados no absurdo concurso de 2004? Foram tratados, digamos, com alguma ?rudeza?, ou terá sido antes com indiferença? Quem falou em crueldade, nessa altura? Que solidariedade tiveram esses professores? Como formadora de Educadores de Infância, tendo dedicado boa parte da minha carreira aos estágios, não posso deixar de mencionar o que agora se pretende. Pretende-se que os estágios dos cursos via ensino no Ensino Secundário sejam teóricos, sem parte prática, para não pagar aos estagiários! É mais barato, haverá até quem nos garanta com certeza científica que tais estágios serão melhores que os anteriores. Por fim, desejo a todos muita sorte, pois longos anos nos esperam, de trabalho, dedicação, esforço e sobretudo inovação! É sabido que quanto mais velhos somos mais tendência temos a inovar! ? Sendo assim, a idade para a aposentação deveria ser ainda mais aumentada! Os professores mais velhos poderão todos acabar nos museus. E os funcionários dos museus, quando estiverem idosos? Que tal mandá-los dar aulas, nessa altura?


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 148
Ano 14, Agosto/Setembro 2005

Autoria:

Maria Gabriel Cruz
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real
Maria Gabriel Cruz
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real

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