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Perrenoud e as ?competências?

Diz o pedagogo Philippe Perrenoud que o ?saber? tem origem na experiência mas nenhum saber provém apenas da experiência. Penso que a Escola deve transmitir conhecimentos e abrir as mentes à aquisição de competências, que, por sua vez, implicam saberes. Podemos considerar a existência de vários tipos de ?Saber?:
1 - Senso comum que resulta do processo de socialização;
2 - Saberes subjectivos que resultam da experiência de vida;
3 - Saberes profissionais;
4 - Saber científico: requer formação prévia e longa.
Se questionarmos a possibilidade de elaborar ?saberes? em vez de ?competências?, vemos que se trata de uma falsa questão. De facto, não se podem desenvolver competências na Escola sem limitar o tempo destinado à assimilação de saberes. Por outro lado, a maioria das competências mobiliza saberes. As competências requeridas na vida quotidiana não são desprezíveis. Citando Le Boterf, Perrenoud diz que uma competência é aquilo que permite enfrentar um tipo de tarefas e situações, apelando para noções, conhecimentos, métodos e técnicas. A competência é um ?saber mobilizar?. Ora, os exercícios escolares clássicos permitem a consolidação de noções mas não trabalham a transferência para a prática. É assim necessário relacionar os saberes; muitas noções estudadas permanecem esquecidas, porque foram estudadas fora de qualquer contexto prático. Como afirma Perrenoud, os que estudaram Física sem ir além da Escola continuarão sem compreender as tecnologias; quem estudou Geografia não saberá, só por isso, localizar no mapa um país e pouco saberá sobre ele. Ou seja: a mera acumulação de saberes não chega. Já António Sérgio falava do ensino português como um ?armazém de bacalhau.? Curiosamente, ao contrário do que Perrenoud afirma, a trilogia das competências ?Ler, Escrever e Contar?, não está atingida. Estamos no séc. XXI e a forma de ?dar aulas? é muito semelhante ao que se refere sobre a Idade Antiga, nomeadamente a Grécia clássica: o método expositivo. Quem não se lembra do uso dos eternos ?meios tecnológicos? que são o quadro, o giz ou o retroprojector? Estarão ultrapassados? A Escola continua a debater-se com a concorrência de outros ?meios educativos? como a televisão. Estes ?meios? transmitem muitas vezes contravalores, ou valores negativos. Por último, pensando na realidade de muitos programas escolares, diria que é necessário diminuir a extensão de ?matérias? em favor da ?aplicação? de conteúdos.

Bibliografia:
Construir Competências é virar as costas aos saberes?, Perrenoud, Philippe, in Pátio, Revista Pedagógica, Porto Alegre, Brasil, nº 11, Novembro de 1999, pp. 15 - 19.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 140
Ano 13, Dezembro 2004

Autoria:

Maria Gabriel Cruz
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real
Maria Gabriel Cruz
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real

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