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Mais artesanato para lá das feiras

Centro Regional de Artes Tradicionais

Azulejos, figurados, cerâmicas, linhos, brinquedos de chapa. Peças expostas em pisos com vista para o rio Douro. Situado no coração da Ribeira portuense o Centro Regional de Artes Tradicionais (CRAT) actua na divulgação do artesanato. Um trabalho diário num sector que ganha maior visibilidade no Verão. A altura em que abrem as portas as maiores feiras de artesanato. Mas há mais ?vida? para os artesãos no resto do ano.

Chega o Verão. Com ele as habituais feiras de artesanato. Surgem inseridas nas festividades das cidades. Há música. Animação. A população dá lá um salto. Vendem-se algumas peças. As autarquias cedem os expositores, pagam a alimentação e os artesãos comparecem vindos de todo o país. Compram-se algumas peças, poucas. Quem vende dá-se por satisfeito.
No entanto, há quem defenda que estas feiras ?pecam por não serem pensadas do ponto de vista comercial?. É a opinião de Conceição Rio, coordenadora do sector de formação e animação do CRAT. Apesar disso, considera, existirem dois ?grandes momentos de escoamento de artesanato em Portugal?. Um ainda a decorrer, a Feira Internacional de Artesanato, em Lisboa. O outro marcado para finais deste mês, a Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde.

Certificação e concorrência

A certificação dos produtos é a chave para o desenvolvimento do sector do artesanato. É também o trunfo que pode dar a vitória no jogo da concorrência. ?As pessoas podem querer comprar uma toalha bordada na China a custar 10 euros ou uma toalha bordada no Norte de Portugal a custar 40 euros, mas têm de conhecer o que compram?, defende, Conceição Rio.
Quando se fala em artesanato, um dos problemas que sobressaem é a concorrência dos mercados asiáticos, africanos e latino-americanos. Peças de artesanato ou pseudo-artesanato enchem as prateleiras a baixos preços e apresentam-se como opositores aos produtos portugueses. O problema, insiste Conceição Rio, é o da clareza. ?Nas lojas chinesas, por vezes, há artesanato tão bom como o nosso.? Não pode é haver confusão entre produtos. Até porque, esclarece Conceição Rio, ?o artesanato proveniente desses mercados é artesanal, mas quando chega às feiras quem o vende não faz ideia de como é feito?.
Cabe ao Programa para a Promoção dos Ofícios e das Microempresas Artesanais juntamente com as agências de desenvolvimento local a tarefa de certificar os produtos artesanais. O processo implica um levantamento histórico sobre o produto, a sua importância na região e a avaliação da deterioração estética do produto. Isto porque, alguns artesãos, na tentativa de modernizar os produtos caem no erro de os modificar, descaracterizando-os. O passo seguinte é verificar se o produto possui as características que o identificam com determinada grelha de produtos considerados artesanato.

Directivas europeias

Entre os produtos artesanais mais comercializados encontram-se os alimentares. A comercialização destes produtos esbarra, por vezes, nas directivas europeias de higiene e segurança. Para Conceição Rio a questão não dá margem para hesitações: ?Cabe a cada país negociar? as condições que envolvem determinado produto. Caso contrário, adianta ?o que se passou em Portugal com o queijo da Serra da Estrela pode vir a repetir-se com outros produtos?.
A confusão que geram estas directivas é particularmente visível no que toca aos brinquedos artesanais de chapa. Estes produtos não podem ser vendidos como brinquedos por não obedecerem às regras de segurança da União Europeia. Nos rótulos são classificados como ?brinquedo de colecção?. Sendo que fica à responsabilidade de quem compra a opção de deixar uma criança brincar ou não com o produto.
Os brinquedos de madeira podem vir a sofrer o mesmo problema, no que toca às regras de segurança. ?Mas o certo é que dezenas de gerações brincaram com eles?, nota Conceição Rio. E esclarece: ?Não defendo que as crianças estejam em risco com os brinquedos, devem é aprender que as coisas não podem ser manipuladas de certa maneira.?

Saídas para a crise

O casamento entre o produto artesanal e o design afigura-se como uma das saídas para a crise no sector. O problema é que ? desenhar o artesanato é complicado?, diz Conceição Rio: ?Quando um artesão se senta na sua roda faz, isto é, não pensa no que vai fazer.? Do outro lado, ?os designers que desenham para a indústria e não são preparados para desenhar para as pequenas séries ou produtores artesanais?, continua.
 Apesar das dificuldades do casamento existem casos de experiências de sucesso neste campo. Como a da utilização dos bordados dos lenços dos namorados e das rendas de bilros por alguns estilistas portugueses de renome. Um exemplo que, a bem do artesanato, se espera ver repetido.

?O maior desígnio do CRAT é a investigação?

Desde 1985 que as actividades do Centro Regional de Artes Tradicionais se movem no terreno ora árido, ora escorregadio do estudo e divulgação das artes tradicionais. Seja através da edição de publicações e vídeos, seja pela organização de exposições e comercialização de produções artesanais. Ou, pela realização de oficinas de aprendizagem. Sendo que ?o maior desígnio do CRAT é a investigação?, diz Conceição Rio, coordenadora do sector de formação e animação. Mas há um senão.
?Às vezes estamos tão condicionados do ponto de vista financeiro que temos de gerir um plano de actividades completamente estrangulados?, lamenta Conceição Rio. Sendo uma instituição privada, sem fins lucrativos, mas desde 1992 considerada de utilidade pública, o CRAT esperava um apoio mais regular por parte dos seus associados públicos.
O cenário é, no entanto, pouco animador: o subsídio da autarquia portuense para 2003 chegou à instituição no final do ano e um protocolo existente entre o CRAT e o Ministério da Cultura terminou há três anos sem que fosse renovado. Resta um apoio da Comissão de Coordenação da Região Norte sob a forma de prestação de serviços, como o fornecimento de transportes para mercadorias ou de fotocópias. Até ao momento o único apoio que está a ser renegociado com o objectivo de passar a ser um subsídio fixo.


  
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Edição:

N.º 136
Ano 13, Julho 2004

Autoria:

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação

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