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Olh?ó robot

As movimentações do palco agitam a miudagem alheia às imagens mostradas no ecrã. O maior desejo de todos é ver o robot a mexer.

Fecham-se as portas. Vindo de algures um homem tráz consigo duas folhas A4 e fita-cola. ?É expressamente proibido trazer alimentos para dentro do auditório?, avisam tardiamente os papéis agora colados à entrada do auditório da Fundação Cupertino de Miranda. Lá dentro mais de 200 cadeiras vazias e alguns vestígios de um ?piquenique? não programado.
Sobras da agitação vivida muito antes da miudagem, de 6, 7, 8, 9 anos, estar de volta às camionetas e zarpar de férias. Terminava assim a manhã de apresentação dos projectos de turma realizados por algumas escolas do 1º ciclo no âmbito do programa Porto de Crianças, da Câmara Municipal do Porto.
?Bom regresso!?, foram as últimas palavras ouvidas do púlpito. Já a pequenada de 6, 7, desesperava. Os professores tentavam mantê-los quietos. Sem fazer barulho. De preferência sentados. ?Oh meninos!, Oh meninos, por favor, estejam em silêncio para ouvirem os colegas!?, implorava-se do palco. Sem resposta, mudavam-se os destinatários das súplicas: ?Oh colegas? Pedimos aos professores que estão a tomar conta dos seus alunos que tomem mesmo conta deles!?
Contra o sucesso dos apelos corria o tempo de apresentação dos trabalhos. Meia hora, uma, duas e meia quase três. E a miudagem dispersa, a escorregar pelos tampos das cadeiras, a comer o pão com manteiga, as batatas fritas e os sumos trazidos na lancheira. Numa tentativa, frustrada, de sossegar o estômago e o resto. ?Oh meninos??

Mão na bola

Sobe ao palco o robot. Um disco de 15 cm de diâmetro. É o protagonista mais badalado da manhã. Faz parte do projecto Aprender Matemática com a Robótica concebido pela empresa de programas educacionais Amoeba que, com o apoio do centro de recursos educativos da autarquia portuense, o desenvolveu em quatro escolas: EB 1 nº 23, Raul Dória; a EB 1 nº 17, Costa Cabral ; EB 1 nº 30, e a EB 1 nº 11, da Lomba.
A selecção dos participantes no projecto foi feita com base na adequação do projecto educativo da escola ao programa e envolveu turmas do 4º ano, à excepção da escola básica nº 17 em que participou o 3º ano. O que, segundo Pedro Gabriel, da Amoeba, ?implicou um grande esforço por parte da professora que teve de antecipar partes do programa do 4º ano?.
Um esforço agora projectado imagem a imagem, com o auxílio do Power Point. Cada escola inicia a apresentação do projecto mostrando num ecrã as etapas da sua execução. Contam-se mais de uma dezena. Pôr o robot a andar implicou, entre muito: a aprendizagem da linguagem do robot, a definição do percurso a fazer, a identificação dos monumentos com interesse, a pesquisa de informação sobre a sua história, a construção da maqueta, o esboço do traçado das ruas, o cálculo das distâncias a percorrer. ?Tudo feito ao máximo pelos alunos!?, garante Pedro Gabriel.
Enquanto um aluno com a ajuda do espírito santo de orelha da professora explica o que o ecrã está a mostrar, Pedro Gabriel monta e desmonta placas e maquetas no palco. São representações da planta da cidade do Porto. E cada escola tem a sua, uma vez que definiu um percurso diferente. Por esses caminhos seguirá o robot, que apesar de ser um só, veste quatro mudas de roupa de acordo com os gostos de cada escola.
As movimentações do palco agitam a miudagem alheia às imagens mostradas no ecrã. O maior desejo de todos é ver o robot a mexer. Mas para isso é preciso que ele escute bem as coordenadas que o fazem distinguir a direita da esquerda, o avançar do recuar. Caso contrário o engano é certo.
Vestindo o ?seu? robot com as cores nacionais, a EB 1 nº 17 anuncia um percurso que põe a miudagem ao rubro. O pequeno disco irá até ao Estádio do Dragão e uma vez lá dentro deverá marcar um golo na baliza. Olhos postos na maqueta do estádio alguns miúdos não se contêm sentados. Todos anseiam pelo golo.
Indiferente aos sentimentos da plateia o robot entra no estádio mas não tem força para chutar à baliza. Então Pedro Gabriel dá uma ajuda ao robot dando um toque na bola. Um gesto anti-desportivo que a miudagem agora atenta não perdoa. ?Foi mão! Foi golo, mas foi com a mão!?, reclamam entre vaias. E de repente o auditório é uma bancada de mini adeptos em fúria com o árbitro. A grande penalidade ficou por marcar. Mas ninguém abandonou o campo. Ainda faltavam muitos projectos para apresentar.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 136
Ano 13, Julho 2004

Autoria:

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação

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