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Cientificidade

O que é isto de cientificidade das ciências? Quais as ciências mais exactas? Serão as Ciências Sociais científicas?
Penso que isto é uma discussão que já não faz evoluir e progredir mais. É uma questão inoportuna e inconsequente onde se travam batalhas desnecessárias e, já, desinteressantes. Todos nós reconhecemos que na ciência como verdade absoluta, como transparência incólume da realidade, objectiva e concreta, já ninguém acredita. A influência do investigador e da sua personalidade, juízos de valor, preconceitos e pré-conceitos, desejos e ambições, enfim toda a sua subjectividade, é sem dúvida inquestionável. O próprio termo cientificidade é ambíguo e subjectivo, para Boaventura Sousa Santos é algo que posto ao serviço da humanidade pode ajudar a dar sentido à vida de cada um, para Popper, é algo que não pode ser verdade que tem que ser ambíguo e que dê, sempre, asas à refutação, para Khun é a melhor aproximação possível da verdade, para outros é a descrição tal e qual da realidade, para outros ainda pode ser as teorias fantásticas que nascem da observação e da correlação com os factos. Para um pode ser a descoberta de uma enxada que trabalhe sozinha, para outros pode ser a descoberta de vida em Marte ou ainda o descortinar de uma nova fórmula matemática. Qual destas descobertas é a mais cientifica? Qual é a mais útil? A mais fiável? São todas!
Não existe ciência melhor ou pior existe uma ciência que estuda uma realidade e (?) que se divide em disciplinas particulares que estudam partes da realidade com o objectivo de chegar ao conhecimento da realidade total. Quando digo conhecimento, não me refiro à verdade, (?) na ciência a verdade é relativa. Não me refiro ao conhecimento total, porque isso é impossível, quanto mais conhecemos maior é a nossa ignorância. Refiro-me ao conhecimento de momento de uma realidade una mas que para melhor a compreendermos estudamo-la em partes diversas. Se assim é, toda a ciência é científica, Matemática e Ciências da Educação, Sociologia e Biologia, cada uma tem a sua parte do real para estudar e faz o seu melhor. Qual a mais verdadeira? Todas e nenhuma! Todas porque dão seu melhor para chegar ao conhecimento da realidade, nenhuma porque o conhecimento é provisório, por isso, só é verdade até haver prova do contrário.
No caso particular das ciências da educação penso que todos nós nos devemos preocupar muito mais em tentar demonstrar as pessoas o que podemos fazer do que andar a travar batalhas com o António ou seja quem for tentando demonstrar uma cientificidade que é evidente. È evidente porque temos uma parte do real para estudar-mos que é talvez a das que mais influência tem na vida de cada um que é a educação, temos um método, temos pessoas competentes e aplicadas a fazê-lo, por tudo isto somos tão ciência como todas as outras.
A batalha que devemos travar é em direcção ao real de modo a que cada dia que passa nós possamos ser mais ignorantes, é sinal de que conhecemos mais, não travar batalhas desnecessárias que só nos atrasam não só na corrida pelo conhecimento mas também em relação a outros países. O que é uma pena porque já provamos que temos diversos investigadores, com provas dadas fora e dentro do país, e que as suas potencialidades deviam ser aproveitadas, assim como potencializar o aparecimento de outros.
Temos qualidade, somos um povo trabalhador e criativo, penso que devemos ignorar quem propicia esta batalha de cientificidade e conjugarmos esforços no sentido de obtermos uma ciência una para conhecer uma realidade também ela una.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 135
Ano 13, Junho 2004

Autoria:

Tiago Pinto
Aluno do Curso de Ciências da Educação na FPCE da Univ. do Porto
Tiago Pinto
Aluno do Curso de Ciências da Educação na FPCE da Univ. do Porto

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