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Vamos pôr o cinismo de lado

MANUAIS ESCOLARES

Difícil é partilhar e aceitar a ideia que, nos nossos dias, alguns professores ainda se deixam influenciar por certo tipo de markting de algumas editoras, permitindo assim atentar contra a sua própria inteligência.

A problemática que anualmente envolve os manuais escolares, somente compõe as manchetes de jornais (e outros média), quando se aproxima a época da sua comercialização. Contudo, é comum e injusto imputar todos os erros e lacunas (pedagógicas, científicas, técnicas, etc.) neles contidas, tão só, aos livreiros e editores.
Concordo que repetidamente são desprovidos de princípios inovadores, que negam a flexibilização curricular (não se ajustando às realidades quotidianas que habitam as salas de aula), não incentivam a análise, o raciocínio, a pesquisa, são instrumentos pedagógicos formatados e, mais grave ainda, por vezes, contêm erros pedagógicos e científicos imperdoáveis. Todas estas lacunas, vêm exigir e desafiar os professores para novas e acrescidas responsabilidades, novos campos de decisão, devendo estes munirem-se de competências e meios para a sua selecção.
Não é racionalmente aceitável a um professor, seleccionar um manual escolar e, à posteriori, apontar-lhe erros quando o utiliza. Isto desclassifica e menoriza o seu trabalho.
Os editores, com vontade de promoverem o seu produto e também de auxiliarem o trabalho dos professores na escolha, produzem cada vez mais manuais (descurando por vezes a sua qualidade), acompanhados de aliciantes ofertas, pois o seu objectivo é a maximização das vendas, e não é para eles necessário ?mudar nada?, visto continuarem a satisfazer a sua clientela.
Vasco Teixeira, presidente da ?Porto Editora?, numa entrevista ao Jornal Expresso, em 6 de Dezembro de 2003, proferiu que os professores em monodocência eram os mais influenciáveis pelo markting das editoras, pois têm que apreciar mais de 60 manuais e não conseguem (sic.).
Na minha modesta opinião, esta é uma tarefa bastante difícil, mas não impossível, visto já estar feito o diagnóstico da maioria dos erros que os manuais apresentam. Difícil é partilhar e aceitar a ideia que, nos nossos dias, alguns professores ainda se deixam influenciar por certo tipo de markting de algumas editoras, permitindo assim atentar contra a sua própria inteligência.
Cabe-nos principalmente a nós professores fazer uma selecção cuidada e consciente dos manuais e principalmente uma utilização correcta, não permitindo que outros menos formados e capacitados nesta área dirijam as nossas práticas pedagógicas.
Se achamos que os manuais têm erros, vamos pôr o cinismo de lado e começar a utiliza-los como estes merecem!
Vamos continuar esperando que os editores sintam necessidade de contrariar o velho paradigma da insatisfação?
Afinal quem está insatisfeito? As editoras não, porque continuam a movimentar um negócio de cerca de 70 milhões de euros todos os anos. Os professores também não, porque usam os manuais escolares como se fossem uma Bíblia a seguir, esquecendo-se que não são o único recurso pedagógico existente.
É por isso, nossa responsabilidade contribuirmos todos para a detecção dos defeitos e respectiva correcção. Continuarmos a utilizar os manuais como o principal recurso pedagógico, esquecendo-nos dos defeitos detectados, será contribuir para a procura de uma educação melhor para todos?


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 135
Ano 13, Junho 2004

Autoria:

Margarida Maria Cipriano
Professora do Ensino Básico, Entroncamento
Margarida Maria Cipriano
Professora do Ensino Básico, Entroncamento

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