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Reviravolta no consumo - Em nome da Justiça

O colorido salta à vista. Entre os alaranjados e as cores da terra, o som ambiente e o sorriso de quem nos atende, há algo que deixa antever não se tratar de uma loja como as outras. As prateleiras têm chãs, cafés e compotas. Têm peças de vestuário, tapeçarias e brinquedos. Na loja do Comércio Justo ?o produto é um pretexto para contar uma história de igualdade entre os países do Norte e do Sul?, explica Miguel Pinto, presidente da Reviravolta a associação que trouxe uma dessas lojas para o Porto.

Loja do Comércio Justo ? Associação Reviravolta

Tipo
Associação sem fins lucrativos

Objectivos
Alterar as relações comerciais no mundo tornando-as mais justas e criar uma nova forma de consumo ético e responsável

Direcção
Miguel Pinto

Morada
Rua Santos Pousada ? Central Shopping, 4º piso / loja 211 / 4000-478 Porto

Correio Electrónico
Reviravolta@mail.pt

E a história reza assim. A ideia de criar uma alternativa mais justa ao comércio convencional surge na sequência de um apelo dos países do Sul às Nações Unidas: ?Comércio e não ajuda?. O que pretendiam era que fossem criadas as condições para que as comunidades produtoras das zonas pobres pudessem contribuir para o seu próprio desenvolvimento. Estávamos em 1964.
O comércio justo pauta-se por princípios éticos que envolvem todos os intervenientes na cadeia de produção e comercialização. Daí que esteja a cargo de organizações não governamentais para o desenvolvimento e associações sem fins lucrativos. A adesão ao movimento tem sido positiva. Existem cerca de três mil lojas de comércio justo espalhadas por 18 países da Europa. E estima-se que trabalhem neste movimento cerca de cem mil voluntários.
Os artigos comercializados nas lojas do comércio justo podem ser alimentares, têxteis e de artesanato. São produzidos em cooperativas localizadas em algumas das zonas carenciadas da América Latina, África e Ásia. Os produtores assumem um compromisso de investir parte dos lucros obtidos na supressão das carências básicas da comunidade onde se inserem. E desta forma potenciam eles próprios o desenvolvimento local. Sem que para isso necessitem da tal ?ajuda? dispensada em 1964.
 Uma vez que os lucros visam o desenvolvimento local, a base deste sistema comercial alternativo assenta na não exploração do produtor. A quem é assegurado um preço justo pelo que produz. No comércio convencional ?o produto passa por vários países, por várias transformações e acréscimos de mais valia que não revertem para o produtor?, contesta Miguel Pinto.
Para evitar esta situação é preciso eliminar todos os intermediários desnecessários. Por isso ? explica o presidente da Reviravolta ? o comércio justo só tem três entidades básicas: o produtor, o importador que é uma ONGD sem fins lucrativos ligada ao movimento e as lojas de comércio justo. Cada um destes intervenientes recebe em média um terço do valor de venda do produto ao público. No final, o consumidor compra um produto a um preço competitivo e com um valor ético. ?As pessoas só têm de fazer o que fazem nas outras lojas: consumir.? Mas ? concluiu Miguel Pinto ? ?sabendo que estão a contribuir para o desenvolvimento sustentável dos países de onde provêm os produtos.? 

Produtores

Na loja do comércio justo cada produto espelha o esforço dos homens e mulheres que o produziram. A lista que se segue dá a conhecer o trabalho de seis cooperativas produtoras provenientes de vários continentes. Cada uma delas, à semelhança de muitas outras, intervém directamente no desenvolvimento da sua região.

El Ceibo

A cooperativa El Ceibo é formada por cerca de mil famílias camponesas de Alto Beni, na Bolívia. Produz e comercializa cacau e vende 20% da sua produção através do comércio justo. O seu contributo para o desenvolvimento da região faz-se nas áreas da formação profissional, da saúde e do apoio aos camponeses reformados.

MCCH

A Maquita Cushunchic Comercializando como Hermanos, é criada em Quito, no Equador. As comunidades que lhe estão associadas produzem açúcar, compotas, bolachas e doces. A MCCH desenvolve programas de saúde, formação e dispõe de uma cooperativa de poupança e crédito.

Mzilikazi

O Centro de Arte e Artesanato de Mzilikazi, no Zimbabué dá formação e emprego a cerca de 150 jovens que realizam trabalhos de cerâmica com desenhos típicos da cultura local. Este centro prima pela não discriminação sexual e étnica.

Preda

É uma organização que ocupa meninos da rua e jovens com problemas, nas Filipinas. Fazem trabalhos em vime: cestos, artigos para o lar e bijutaria de prata e madeira.

YWCA

250 Mulheres do Bangladesh trabalham na YWCA fabricando artigos têxteis. Provêm de famílias com dificuldades de subsistência e esta foi a forma encontrada para satisfazer as suas necessidades mínimas. Cerca de 10% do lucro é destinado a um fundo de poupança para serviços básicos.

La Malinche

É constituída por mulheres das comunidades indígenas de El Chile e El Zapote, na Nicarágua. Produzem manualmente tecidos e couro. Com eles fazem mochilas, bolsas, carteiras, etc. É uma alternativa de trabalho essencial uma vez que a região é afectada por uma crise económica.

Comércio Justo ? Perguntas & Respostas CIDAC ? Centro de Informação e Documentação Amílcar Cabral (Organização Não-Governamental de Desenvolvimento)


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 119
Ano 12, Janeiro 2003

Autoria:

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação

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