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O direito à nova cidade - Uma outra cidade é possível

A cidade baseada no modelo máquina do séc. XIX passou a ser o shopping. Generalizaram-se formas de «apartheid» urbano através de condomínios fechados para a burguesia enriquecida e guetos para os excluídos.

Nestes últimos anos de capitalismo neo-liberal exacerbado, agravaram-se três síndromas principais:

  1. Esgotamento das energias convencionais ou fósseis, esgotamento de bens naturais e destruição alargada da biodiversidade;
  2. Contaminação tóxica e poluição global do ar, da água, da terra e dos organismos vivos;
  3. Agravamento do fosso social entre países ricos e países pobres, entre metrópoles e periferia. Cresce uma minoria cada vez mais poderosa e rica face a uma maioria cada vez mais empobrecida e despossuída de condições objectivas de cidadania.

No plano do urbanismo, a cidade tornou-se numa mega máquina energetívora e predadora. A megapólis funciona segundo o metabolismo linear, bombeando bens da periferia e expelindo os resíduos poluitivos para o exterior.
A cidade baseada no modelo máquina do séc. XIX passou a ser o shopping. Generalizaram-se formas de «apartheid» urbano através de condomínios fechados para a burguesia enriquecida e guetos para os excluídos. Isto é o corolário da destruição dos espaços públicos e das operações especulativas de promotores imobiliárias.
Apenas os fluxos circulatórios cada vez mais ocupados pelo automóvel,  constituem linhas de comunicação acelerada entre pólos de consumo.  Instaurou-se um sistema de vigia e punição que é cada vez mais parecido com o «big brother» com que Orwell nos horrorizou mas que agora se aceita como entretenimento social.
Esta sociedade securitária desenvolveu bodes expiatórios sobre o terrorismo  e sobre a emigração para escamotear as profundas injustiças geradas pelo seu  modelo de crescimento. Mas uma outra cidade é possível. A luta pelos espaços públicos constitui uma  reivindicação essencial face ao «apartheid» dos condomínios privados.
Só uma  cidade capaz de introduzir um metabolismo circular, isto é, uma ecocidade  que transforme e recicle os seus resíduos em regeneração produtiva e que se  alimente de energias renováveis, pode inverter o carácter predador do actual  modelo de urbanismo. Essa cidade tem que se formular numa outra visão urbanística, construída com  fontes de energias renováveis, com sistemas de biodepuração, com transportes  públicos não poluentes, com jardins e hortas municipais, com dispositivos  topológicos que criem lugares privilegiados para uma cidadania activa. Tudo isso porque hoje não há ideias políticas sem lugares e não há lugares  sem ideias.
A luta sindical no combate pelos direitos e regalias sociais, deverá  abranger o direito a esta nova cidade.  Por isso, no dia 10 de Dezembro, dia  da Greve Geral, espero que nas bandeiras e faixas reivindicativas se possam  ver novos slogans de combate: ecocidades, lugares públicos para uma  cidadania livre, direitos para uma nova cidade, contra o «apartheid» urbano.


  
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Edição:

N.º 118
Ano 11, Dezembro 2002

Autoria:

Jacinto Rodrigues
Fac. de Arquitectura da Univ. do Porto
Jacinto Rodrigues
Fac. de Arquitectura da Univ. do Porto

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