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Teoria e prática educacional

A literatura sobre educação é bastante farta, deixando-nos em posição cômoda para estudar e praticar. Não é por falta de material apropriado que o ensino nas escolas não anda a contento. Na verdade, temos constatado a existência de um comodismo geral quanto a continuar os estudos após a recepção do diploma de formação. E nos cursos de formação temos notado muito verbalismo em detrimento da teoria.
Professores e estudantes confundem teoria e prática com verbalismo e ativismo. A teoria significa o estudo, a apreciação, enfim, o próprio conhecimento da ciência ou disciplina à qual nos dedicamos. A prática corresponde às experiências acumuladas de aplicação da teoria. Já o verbalismo é aquele palavrório inútil, carregado de academicismos, quando muito se fala mas pouco se diz. O ativismo é a ação imediata movida pela curiosidade, pela impetuosidade. A teoria não se confunde com o verbalismo, assim como a prática não significa ativismo.
É comum a separação entre teoria e prática, quando na verdade são indissociáveis, são complemento um do outro. Os cursos que priorizam a teoria colocando a prática apenas na forma de estágio ao final, cometem um grande erro, pois privam os estudantes de construírem as experiências, de fazerem uso da criatividade e de desenvolverem uma consciência crítica.
Essa abordagem nos leva a outra questão, esta fundamental, que é definirmos a educação. Trata-se de entendermos a educação, o que ela é, a que se destina, o que queremos com ela. Já o dissemos: "ninguém pode educar se não souber o que é a educação".
Para nós, a educação é o conjunto de estudos e experiências que propiciam ao educando o desenvolvimento de suas potencialidades de forma equilibrada, tendo por finalidades sua formação integral e a construção do homem moral.
O finalismo superior da educação: o homem moral. O caminho para esse fim: a formação integral. Podemos, a nível do ensino, destacar como sendo a aplicação da interdisciplinaridade, ou seja, o conjunto das disciplinas, dos temas de estudo em ação cooperada. Também está caracterizado na definição a aplicação da experiência própria, do trabalho por parte do educando, assim como o reconhecimento de que ele é o agente de si mesmo, por ser portador de suas próprias potencialidades. Estamos falando da educação integral, aquela que conjuga de forma dinâmica os agentes sociais, o eu indivíduo e a vida num processo interativo.
Muitos educadores se desestimulam frente a atividades de estudo, pesquisa e elaboração prática em grupo, denunciando sua falta de visão do homem e do mundo, não conseguindo funcionar satisfatoriamente no âmbito das relações. Esses educadores são sistemas fechados, responsáveis pelo verbalismo inconseqüente e pela constante troca de atividade na busca de soluções.
Defendemos a reformulação dos cursos de formação de educadores. Também defendemos a recapacitação dos educadores em atividade, pois toda teoria será derrotada se os responsáveis por sua aplicação não forem capacitados para colocá-la em prática. Enquanto os educadores estiverem arraigados ao ensino compartimentado, disseminado em disciplinas e matérias estanques, sem visão de totalidade, sem compreensão da interatividade das partes que compõem o todo, esse ensino não conseguirá promover, de forma equilibrada, as potencialidades do educando.
Ainda mais grave é constatarmos que, enquanto os educadores não se conscientizarem que a educação possui o finalismo superior de formar o ser, e não apenas de instruí-lo, essa educação que é promovida desde há muito tempo jamais conseguirá estabelecer condutas éticas e relações de ordem moral. Para estabelecê-las será necessário resgatar os valores humanos que encontram-se marginalizados, substituídos pela instrução.


  
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Edição:

N.º 111
Ano 11, Abril 2002

Autoria:

Marcus Alberto De Mario
Instituto Brasileiro de Educação Moral
Marcus Alberto De Mario
Instituto Brasileiro de Educação Moral

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