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Pintor daltónico
António Amaral
62 anos, aluno da Universidade Popular, no Porto

Que utilidade vê na existência de instituições como a Universidade Popular?

Essencialmente é ocupar os tempos livres numa idade em as obrigações profissionais começam a diminuir e até a cessar. É uma maneira de aumentar conhecimentos em áreas onde normalmente a nossa vida profissional não decorreu e aprofundar outras ao nosso gosto. O que há de mais atraente nestas universidades, ditas seniores, é ser um estudo sem compromissos, embora haja trabalhos de casa.

Por que escolheu as disciplinas de Inglês e de Desenho?

Já frequento o Inglês há 4 anos. Escolhi esta disciplina porque era uma língua de que gostava, além disso também facilita o uso dos computadores. O Desenho, sobretudo a pintura foi uma área de que sempre gostei. Mas quando enveredei pelo ensino técnico nunca mais tive oportunidade para me dedicar ao desenho criativo. Na minha profissão o desenho era essencialmente esquemático. Neste momento, na minha área de formação já nem existe a disciplina de Desenho de Circuitos Electrónicos. Com a chegada dos computadores é tudo feito com programas próprios para isso.

Tem saudades da vida profissional?

Tenho saudades dos colegas. Eu fui técnico de electrónica na RTP, progredi na carreira razoavelmente e quando vim para a pré-reforma, aos 55 anos, já era responsável técnico. Mas o meu sonho não era ser técnico de electrónica. Por isso cortei totalmente com a profissão quando me reformei. Dei as ferramentas, os aparelhos de medida, os esquemas... Enfim, tudo o que tinha em casa dei a colegas e nunca mais mexi em nada. Agora quando avaria um aparelho em minha casa mando-o reparar fora.

O seu sonho era ser o quê?

Francamente não sei. Se calhar também não podia seguir as Belas Artes. Eu gosto muito de pintar mas sou daltónico. Agora isso até me impedia o acesso à carreira de técnico de electrónica, mas no meu tempo não. Em princípio a pintura também me estaria vedada. Se bem que eu tenho as minhas defesas. Por exemplo, todas as tintas têm lá o nome escrito, eu sei que determinada mistura pode dar outra cor e sei a cor que dá. Mas se olhar para o quadro não reconheço a cor que lá está. Por isso quando pinto ao longo de vários dias ou semanas, além do quadro tenho ao lado um esboço onde tomo nota das tintas que faço e de todas as misturas que aplico. Se não fizesse isso no dia seguinte tinha de estar a perguntar que cores é que lá tinha posto. Mas bate sempre tudo certo.


  
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Edição:

N.º 109
Ano 10, Fevereiro 2002

Autoria:

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação

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