Olhando para trás - e são mais de 30 anos de experiência profissional
-, e numa tentativa de caracterização do caminho percorrido, iniciado numa pequena
escola do extremo interior do distrito, penso que ele tem sido marcado por avanços
e recuos, interrogações e inquietações, intervenção e reflexão.
Frequentemente, fui confrontada com dificuldades e novas situações para as quais
não me sentia preparada. Um dos momentos mais significativos terá sido a participação
na Experiência de Lançamento dos Novos Programas (1989/93), como docente responsável
por uma turma do primeiro ano de escolaridade, o que me obrigou a um grande
empenho profissional e pessoal e constituiu um momento privilegiado de formação
contínua, um 'momento forte' de autoformação e heteroformação partilhada.
Hoje, as minhas preocupações prendem-se com a constatação de que, muito provavelmente,
a Reforma Educativa então prevista não terá sido conseguida. A mudança das práticas
e das atitudes não terá acontecido, quer ao nível dos responsáveis pelo sistema
educativo, quer ao nível de muitos dos estabelecimentos e dos professores. Aquando
da generalização da Reforma, a disponibilidade de formação e acompanhamento
na mudança, oferecida pelo Ministério da Educação (ME) aos professores e escolas
em experiência, não se estendeu a todas as escolas e a todos os professores
- sozinhos, umas e outros não terão sido capazes de encontrar o caminho para
a mudança que se perspectivava.
E estas preocupações acentuam-se quando, com frequência, se ouve dizer, entre
professores, "projecto curricular de turma..., o que é isso?", "como
se faz?", "Estudo Acompanhado? sempre fizemos!..." - parece-me evidente
que nestas interrogações estão subjacentes angústias, algumas frustrações e,
sobretudo, muita insegurança, revelando algumas das dificuldades na implementação
da reorganização curricular.
Mas há outras, como a falta de tempo necessário para a discussão e a aplicação
apressada dos normativos; a ausência de construção de um sentido colectivo -
normativos, projecto educativo de escola/agrupamento, projecto curricular de
escola, projecto curricular de turma, ... -, porque o trabalho em equipa ainda
não é uma prática no quotidiano de todos os professores; a dificuldade de comunicação
entre os agentes educativos, nas relações pessoais inter-pares e na relação
pedagógica; a incapacidade de construção efectiva da autonomia das escolas;
a insuficiência de espaços físicos adequados, bem como de recursos e equipamentos;
uma formação de professores (inicial e contínua) que ainda não responde às suas
necessidades, tendo em conta as exigências e pressões sociais que, cada vez
mais, se colocam à Escola; ...
Nesta perspectiva, e para tentar ultrapassar tantas dificuldades, creio que
algumas estratégias - que parecendo velhas, serão inovadoras para alguns de
nós (ou para muitos?) - poderão passar por: exigir, junto dos responsáveis,
as condições necessárias à execução das mudanças a implementar; promover a participação
de todos os elementos da comunidade educativa, bem como a comunicação entre
eles; desenvolver a capacidade de partilha e troca de experiências e saberes;
adoptar uma atitude investigadora, crítica, analítica e reflectida; recorrer
a metodologias que favoreçam a diferenciação pedagógica e uma reorganização
dos tempos-espaços de aprendizagem que respeite os interesses, as expectativas
e as necessidades dos alunos.
Mas, enfim, se tantos apelos são dirigidos à Escola - e aos professores, fundamentalmente
-, parece-me legítimo, para lá de importante e urgente, exigir que o ME dispense
um olhar mais atento e profundo ao 1º Ciclo do Ensino Básico. Um olhar que se
traduza num efectivo apoio à mudança.
Irene Baldaia, / EB1 nº 43 (Porto)
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