Página  >  Edições  >  N.º 106  >  113 milhões de crianças sem escola

113 milhões de crianças sem escola

África e Ásia continuam a ser os continentes mais afectados


Cento e treze milhões de crianças em todo o mundo, das quais 59% são raparigas, não irão frequentar a escola este ano, apesar de esse número ter baixado relativamente a 1990, quando atingia os 127 milhões (58% de raparigas), de acordo com um recente relatório da Unesco. Desses 113 milhões, 110 habitam em países em vias de desenvolvimento: 46,5 milhões no sul da Ásia (na Índia, por exemplo, menos de 40% das meninas termina o ensino básico e apenas 1% conclui o ensino superior) e 42,3 milhões na África sub-sahariana. O início do ano lectivo, aliás, revela-se particularmente atribulado em vários países da áfrica ocidental, marcado por reivindicações de professores e de estudantes e de uma crise sócio-económica generalizada.

Na Costa do Marfim, perto de dois mil professores iniciaram uma greve da fome para reclamar o pagamento de um ano de salários em atraso, que o governo garantira regularizar até Julho. Para piorar a situação, o congelamento de verbas destinadas ao sector de produção de café e cacau, do qual dependem directamente dois milhões de pessoas, irá diminuir o orçamento familiar para fazer face às despesas do novo ano lectivo. Também no Gana, cuja inflação galopante é uma das principais preocupações do país, os encarregados de educação enfrentam um aumento de propinas escolares que atingem, em alguns casos, os 50%.

No Togo, por seu lado, as aulas na universidade de Lomé foram retomadas no final do mês passado após diversos meses de interrupção. Os estudantes de medicina e de direito, bem como de outras faculdades, voltaram às aulas depois da greve iniciada em Abril pelo Colectivo de Estudantes da Universidade de Lomé, que levou o reitor daquela universidade a anunciar a "invalidação" do ano lectivo 2000-2001. Apesar da acalmia, os grevistas continuam a protestar contra o congelamento das bolsas escolares, o desrespeito pelos valores das propinas fixados pelo governo e a falta de infraestruturas.

A situação no Níger é igualmente complicada, já que a principal organização de professores do país ameaçou boicotar a reentrada no ano lectivo acusando o governo de "desrespeitar" as cláusulas de um acordo assinado em Junho que previa o reposicionamento salarial dos docentes. O Níger, o segundo estado mais pobre do mundo, regista uma taxa de escolarização de apenas 32%. O sector universitário está paralisado depois de violentas manifestações de estudantes em Fevereiro, que se saldaram pela morte de um polícia e da prisão de dezenas de estudantes.

No Burkina Faso os sindicatos de professores anunciam igualmente um ano "quente". A secretária-geral da poderosa Associação Nacional de Estudantes Burkineses, Souleymane Kologo, fala de um clima social "tenso" no 'campus' universitário, resultado aquilo que classifica como "medidas anti-sociais" contra os estudantes. Em Julho, o Congresso para a Democracia e para o Progresso (CDP, no poder), debateu pela primeira vez a crise na educação, tendo os participantes denunciado a "demissão do estado" nas questões educativas, a falta de infraestruturas e de professores.

Caso paradigmático é o do Benin, onde o orçamento para a educação cresceu nos últimos dez anos. De pouco mais de 2 milhões de contos em 1990, esse valor atingiu um total de 4,5 milhões de contos em 1999. A taxa de escolarização também subiu de 68,8% em 1996 para 76,4% em 1999.

AFP

  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 106
Ano 10, Outubro 2001

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo