A hora lectiva de 45, 50 ou 90 minutos, com intervalo ou sem intervalo, é
um aspecto perfeitamente acessório da reorganização/reforma
curricular que o Ministério da Educação quer viabilizar.
Quem se emaranha nas teias desta discussão gosta de fazer raciocínios
pueris. O que conta são "as boas práticas", independentes
do imperativo temporal e nem as dificuldades técnicas para os construtores
de horários escolares são inultrapassáveis.
O cerne da questão é outro.
Em vez de produzirmos reformas de ensino, com carácter
regular, ao sabor da cor do governo, deveríamos pôr-nos de acordo
quanto ao essencial e finalidades da(s) política(s) de educação
e essa discussão desde a revolução dos cravos ainda não
foi feita - alguém se lembra de Vitorino Magalhães Godinho?. Não
me parece que os decisores bebam a sua inspiração na Constituição
da República - igualdade de oportunidades, universalidade, etc., nem
se fundamentem numa avaliação sistemática de resultados
de reformas anteriores, nossas e dos outros. Pelo contrário, algo os
impele a dar os mesmos passos, a promover os mesmos erros e a compatibilizar
os interesses dos alunos com as absolutas necessidades das leis do mercado de
trabalho, como se esse fosse o grande objectivo prioritário da vida de
cada cidadão, a par do seus compromissos como futuros consumidores e
reprodutores dos valores da classe dominante.
As sociedades, em vias de globalização, não
querem cidadãos diferentes, mais exigentes, mas conformizados. A minha
perspectiva do sistema de ensino passa por privilegiar a dimensão lúdica
da aprendizagem, ao longo do percurso escolar, deixando para os jovens a decisão
de encontrarem o seu próprio caminho, sem pressões, sem angústias.
Para isso será necessário mudar as sociedades do mundo ocidental.
Este é um comentário possível na pluralidade
de opiniões. 45, 90 ou 50 minutos, são minutos relativos nas reformas
do Ministério da Educação.
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