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"ESTÁ NA MODA FALAR-SE SOBRE HOMOSSEXUALIDADE"

"ESTÁ NA MODA FALAR-SE SOBRE HOMOSSEXUALIDADE"[1]


No mês de Maio de 2007, no Jornal A Página da Educação[2], escrevia eu um texto sobre a temática. Uma temática que tem preocupado ao mundo desde que eu lembro das minhas leituras, aprendizagem, os meus debates, observação participante em terreno e defesa da livre opção. Penso que de muito que há que dizer sobre a livre opção, várias foram já mencionadas no texto referido. O que foi o que defendi, leia o texto, eu não me lembro. Lembro-me, sim de ter citado uma frase da capa de um DVD[3], mas esqueci as imensas frases de publicidade, bem mais importantes que a da capa: "Era uma amizade que se tornou um segredo", "Há lugares que no devemos voltar";"Há verdades que demos revelar"; "Há verdades que não podemos negar"[4]. Este diálogo, entre outros, acaba por ser mais importante e interessante que o da capa do filme. É o debate entre dois homens que se amam, um deles todo decidido a levar uma vida aberta com o amor da sua vida, o outro todo temido por não estar a cumprir ou obedecer a denominada ética social. Os dois casam e têm filhos, mas casam com mulheres que são uma paixão de dias para se reproduzir e ter descendência, porque a lei o diz e a sociedade o manda, bem como por existir uma certa paixão que duro a criação dos descendentes. U mais decidido, acaba morto novo, o mais reticente, morto em vida durante muitos anos a imaginar que vive com quem amava e não com quem tinha crianças. Os ciúmes das suas mulheres, não têm destino, não sabem o que nem como fazer para retirar dos afectos dos homens que elas amam, um amor para elas desconhecido. Se for uma deslealdade, um engano denominada deslealdade, um amancebamento de poucas horas ou bigamia de curta ou longa duração, ou amante de meia hora, elas sabia, o que fazer e como agir. Mas, mulher a tentar lutar para reaver ao homem que ama que vive praticamente com outro homem, é uma verdade sem palavras. Sem palavras não há conceito, não acção que seja possível entender.
Ando a pensar e escrever muito sobre este comportamento, desde que em 1896 Freud define a natureza humana como bissexual. Há um debate entre Sigmund Freud[5] e Donald Woods Winnicott, sobre o amadurecimento do ser humano para criar, ideia da qual não se fala ao referir amor dentro do mesmo género. No meu ver, as instituições de seres humanos que procuram opções sexuais, falam mais do orgasmo, da paixão, do que diz a fé religiosa e da opinião social, ignorando absolutamente a ideia de paternidade ? maternidade, de educação dos mais novos que parece ser impossível se o par que cria, são do mesmo género. Assunto que não se debate nem aparece na lei ou os Catecismos de Doutrinas Cristãs ou Muçulmanas. O que interessa aos jornais é quem faz o papel de homem, quem o de mulher, quem lava a loiça, enfim, assimilar ao casal homossexual ao casal heterossexual e não a criação da prole, dever mais importante na nossa cultura. A paixão dura e acaba num pestanejar, excepto em casos de amor entre dois seres humanos que, por se respeitarem um ao outro, precisam do prazer do carinho íntimo. Mas de criar seres humanos novos, apenas lembro um acórdão de um tribunal de Lisboa que entregara a criação dos seus descendentes ao pai e ao seu companheiro, por ser de valor moral e educativo mais alto do valor do acasalamento heterossexual que o pai tinha tido com a mãe dos seus filhos.
Fiquei surpreendido com a notícia. Diz que "o País está a percorrer um caminho na direcção certa...."[6]. Mas de maternidade e paternidade, nada diz. Talvez porque ainda a sociedade anda ocupada em entender como é a relação entre seres humanos do mesmo género e mais nada.
No meu ver, a sociedade e a cultura que nos orienta, essa da lógica religiosa cristã ou maometana, deveriam pensar mais na reprodução e o amor aos mais novos e não apenas a bisbilhotar em relações das que nada sabem. No consigo esquecer esse filme Philadelphia[7] de Tom Hanks, que debate uma doença, mas nada sobre a reprodução social e a educação de uma prole criada por pessoas do mesmo sexo. Na minha experiência de Etnopsicólogo, tenho sido capaz de apreciar que essa criação é tão normal entre homo e heterossexuais. Depende do feitio, da adrenalina gasta ou usada, do entendimento dentro do casal.
Se me disserem que Portugal está a percorrer um caminho certo por permitir o acasalamento heterogéneo, outro galo cantava. Não é o indigitar bisbilhoteiro de como é que é entre casais do mesmo género, o que interessa. O que interessa é a reprodução social que as diversas formas de se acasalar, posa produzir entre os mais novos e os seus amigos. Não falo de pedofilia, é outro assunto que está definido e provado em outros textos meus. Falo apenas da necessidade de reconhecer que há diversas formas de matrimónio, muito embora tenha existido una central elevada a categoria de Sacramento, entre cristão católicos, mas não entre cristãos luteranos, anglicanos, outros. É esse, no meu ver, o caminho na direcção certa e sem preconceitos. Mais uma vez Winnicot vêm a nossa ajuda ao dizer que não é preciso uma mãe, especialmente ao se prender do descendente como única alternativa e actividade da vida.[8]. Por outras palavras, mãe ou pai que não se desmamam do filho ou da sua descendência, é o que faz mal aos mais novos, comportamento bem mais importante que despenalizar o de retirar das lista dos pecados, como fez Wojtila, no seu Catecismo de 1992 e, de certeza, em breve, o Código Penal.
Apenas duas ideias: as formas do matrimónio são heterogéneas; a segunda, a reprodução social orientada por ascendentes que entendem do direito a optar das crianças e as ensinam nesse sentido. Não a homossexualidade: no meu ver é apenas um bisbilhotar em factos que nem se conhecem nem se entendem. Como o diálogo reproduzido ao começo do texto: há o que ama e é ousado e diz que a realidade deve ser exposta. E o tímido, abrangido pela sociedade, que acaba por ficar só.
Falar de homossexualidade, é uma intriga feia. É como nos tempos de Martin Luther King[9], o matrimónio entre brancos ?há brancos, ou apenas pálidos? - e pretos, era uma desgraça social. Quem vai governar esse país nestes dias, a partir de Janeiro 20 de 2009? Falem-me de homossexualidade: é tão aborrecido, mentiroso, exclusivo e oculto, que cansa. A temática hoje é bem outra: a crise financeira e a separação das famílias que comemoram o seu Natal em sítios diferentes, fazem da sua vida um segredo que deixa aos mais velhos sós. É essa a temática. O resto, uma pura cobardia por se ser diferente a media social. Porém, a homossexualidade é um assunto de estatística, nada a ver com a solidariedade entre seres humanos, especialmente da mesma família.


[1] Cabeçalho de notícia, Diário de Notícias, 19 de Dezembro de 2008, Sesta Feira, página de contracapa, em: http://pesquisa.sapo.pt/?q=Est%C3%A1+na+moda+falar-se+sobre+homossexualidade&format=dn&barra=lusomundo&location=pt&Input=PESQUISA

[2] Homossexualidade, Jornal a Página da Educação, Nº 167, Ano 16, Maio de 2007, página 34, em: http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=5395

[3] O Segredo de Brokeback Mountain, filme de Ang Lee, com Heath Ledger e JakeGyllenhaal, 2006 em: http://www.brokebackmountain.com.br/

[4] Diálogo dos actores que jogam os caracteres de dos homens que se amam, em: http://www.brokebackmountain.com.br/ , apresentação do filme.

[5] Freud, Sigmund, 1905, Ensaios sobre Sexualidade, define a orientação como opção entre ser homem ou mulher, apesar de o género que se tenha e denomina aberração a orientação homossexual, como refiro no meu texto citado. Foi preciso a intervenção de Winnicor para definir o papel da mãe e assim entender que a homossexualidade não era apenas normal, bem como um casal homossexual era capaz de adoptar crianças e os criar, ao definir o papel da mãe: Donald Woods Winnicott (Plymouth, 7 de abril de 1896 - 28 de janeiro de 1971) foi um pediatra e psicanalista inglês.
Para Winnicott, cada ser humano traz um potencial inato para amadurecer, para se integrar; porém, o facto de essa tendência ser inata não garante que ela realmente vá ocorrer. Isto dependerá de um ambiente facilitador que forneça cuidados suficientemente bons, sendo que, no início, esse ambiente é representado pela mãe. É importante ressaltar que esses cuidados dependem da necessidade de cada criança, pois cada ser humano responderá ao ambiente de forma própria, apresentando, a cada momento, condições, potencialidades e dificuldades diferentes.
Assim, podemos pensar que, se amadurecer significa alcançar o desenvolvimento do que é potencialmente intrínseco, possíveis dificuldades da mãe em olhar para o filho como diferente dela, com capacidade de alcançar certa autonomia, podem tornar o ambiente não suficientemente bom para aquela criança amadurecer. Não basta, apenas, que a mãe olhe para o seu filho com o intuito de realizar actividades mecânicas que supram as necessidades dele; é necessário que ela perceba como fazer para satisfazê-lo e possa reconhecê-lo em suas particularidades.
[6] Entrevista a Solange F. , apresentadora de televisão, homossexual declarada.

[7] Philadelphia, 2004: Philadelphia (br / pt: Filadélfia) é um filme estadunidense de 1993, do gênero drama, dirigido por Jonathan Demme (de O Silêncio dos Inocentes) e com roteiro de Ron Nyswaner.
O filme conta a história de Andrew Beckett, um advogado homossexual que trabalha para uma prestigiosa firma em Filadélfia. Quando fica impossível para ele esconder dos colegas de trabalho o fato de que tem SIDA, é demitido. Beckett contrata então Joe Miller, um advogado homofóbico, para levar seu caso até o tribunal.
[8] Winnicott afirma que, na base do complexo de sensações e sentimentos peculiares dessa fase, está um movimento regressivo da mãe na direcção de suas próprias experiências enquanto bebê e das memórias acumuladas ao longo da vida, concernentes ao cuidado e protecção de crianças.

Tão gradualmente como se instala, em condições normais, o estado de "preocupação materna primária" deve dissipar-se. Essas condições incluem a saúde física do bebé e da mãe, após um parto não traumático, uma amamentação tranquila e pouca interferência de elementos stressantes. Texto completo em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Donald_Woods_Winnicott
[9] Martin Luther King, Jr. (15 de janeiro de 1929, Atlanta, Geórgia ? 4 de abril de 1968, Memphis, Tennessee) foi um pastor e ativista político estadunidense. Membro da Igreja Batista, tornou-se um dos mais importantes líderes do activismo pelos direitos civis (para negros e mulheres, principalmente) nos Estados Unidos e no mundo, através de uma campanha de não-violência e de amor para com o próximo. Se tornou a pessoa mais jovem a receber o Prêmio Nobel da Paz em 1964, pouco antes de seu assassinato. Seu discurso mais famoso e lembrado é "Eu Tenho Um Sonho". História completa em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Luther_King_Jr .Disse: "Eu Tenho Um Sonho" (título original em inglês: "I Have a Dream") é o nome popular dado ao histórico discurso público feito pelo activista político estadunidense Dr. Martin Luther King, Jr., no qual falava da necessidade de união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos no futuro. O discurso, realizado no dia 28 de agosto de 1963 nos degraus do Lincoln Memorial em Washington, D.C. como parte da Marcha de Washington por Empregos e Liberdade, foi um momento decisivo na história do Movimento Americano pelos Direitos Civis. Feito em frente a uma plateia de mais de duzentas mil pessoas que apoiavam a causa, o discurso é considerado um dos maiores na história e foi eleito o melhor discurso estado - unidense do século XX numa pesquisa feita no ano de 1999 [1]. De acordo com o congressista John Lewis, que também fez um discurso naquele mesmo dia como o presidente do Comité Estudantil da Não-Violência, "o Dr. King tinha o poder, a habilidade e a capacidade de transformar aqueles degraus no Lincoln Memorial em um púlpito moderno. Falando do jeito que fez, ele conseguiu educar, inspirar e informar [não apenas] as pessoas que ali estavam

  
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Autoria:

Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa
Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa

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