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Não houve feira, mas há escritores

INICIATIVA REPETE-SE NO SÁBADO 

Este ano não houve Feira do Livro do Porto, mas os escritores marcaram presença numa iniciativa intitulada Não Há Feira, Mas Há Escritores, que decorreu no sábado passado. Uma ação simbólica de protesto e de resistência que volta a reunir autores e leitores nas esplanadas da Praça da Liberdade no próximo sábado, dia 29. Estão previstas as presenças de Fernando Alvim, Germano Silva, Inês Botelho, Ivo Machado, Joel Cleto, Julieta Monginho, Manuel Jorge Marmelo, Marco Mendes, Miguel Carvalho, Miguel Miranda, Nuno Camarneiro, Rui Vieira, Sónia Cravo, Valdemar Cruz e Valter Hugo Mãe.

A Associação Portuguesa de Escritores e Livreiros (APEL) e a Câmara Municipal do Porto (CMP) não chegaram a acordo quanto à realização da Feira do Livro, pelo que os escritores decidiram dar corpo a uma iniciativa que permite aos leitores estarem perto dos autores e das suas obras, comprar alguns exemplares e obter um autógrafo por entre dois dedos de conversa.

Foram muitos os leitores que responderam à chamada. E depois de escutarem as palavras dos escritores, criaram filas quer para adquirir algumas obras, quer para conseguir uma dedicatória nos seus livros.

Um dos autores que suscitou mais curiosidade foi Afonso Cruz. A fila era sempre grande para chegar ao escritor, que também é ilustrador, realizador de cinema de animação e músico. Afonso Cruz é considerado um dos autores mais talentosos da sua geração.

Geração “que está a viver um pouco daquilo que se foi fazendo depois do 25 de Abril”. “Antes havia investimento na Educação e na Cultura e se deixar de haver é possível que haja um retrocesso”, disse à PÁGINA o autor de “Enciclopédia da Estória Universal” (2009), “Os livros que devoraram o meu pai” (2010), “O pintor debaixo do lava-loiças” (2011) e “Jesus Cristo bebia cerveja” (2012), entre outros.

Por isso, é importante lutar “para que a cultura continue”, pois “é a única coisa que nos pode salvar, e não só neste país”. Iniciativas como esta são importantes, mas Afonso Cruz lembra que os escritores não se podem substituir ao poder. “Acho que é muito importante fazer isto, mas não se pode tornar um hábito. Tem de ser visto como um protesto”, frisou.uilo que se foi fazendo depois do 25 de Abril”. “Antes havia investimento na Educação e na Cultura e se deixar de haver é possível que haja um retrocesso”, disse à PÁGINA o autor de “Enciclopédia da Estória Universal” (2009), “Os livros que devoraram o meu pai” (2010), “O pintor debaixo do lava-loiças” (2011) e “Jesus Cristo bebia cerveja” (2012), entre outros.

Gesto de resistência e de afirmação

Entre os escritores presentes esteve, também, Ana Luísa Amaral, autora de várias obras de prosa e poesia, algumas delas premiadas. Para a autora de “Imagens” (2000), “A Génese do Amor” (2005), “Entre dois rios e outras noites” (2008) e “Vozes” (2011), entre outros, a importância desta tomada de posição não se pauta pela venda de livros.

“Não é pelo espírito comercial. Este é um gesto para provar que a literatura e que a cultura estão vivas. É um gesto de resistência e de afirmação de uma cidade que não se conforma de ter sido espoliada de um dos ícones culturais que dura há 83 anos, a Feira do Livro do Porto”, referiu Ana Luísa Amaral, lembrando ser simbólico o primeiro dia da iniciativa coincidir com as “corridas de carros”, um evento organizado pela CMP.

Apelo a quem de direito

“Esta iniciativa serve para mostrar o nosso descontentamento por uma má medida de gestão. Ninguém tinha o direito de acabar com a Feira do Livro do Porto, um evento único e um dos mais importantes na região”, explicou, por seu lado, Miguel Miranda.

O autor de “Contos à Moda do Porto” (1996), “Livrai-nos do Mal (2000), “O Silêncio das Carpideiras” (2005) e “Todas as Cores do Vento” (2012) sublinhou que “esta é uma manifestação de desagrado e um apelo a quem de direito para que a Feira do Livro regresse à cidade o mais rapidamente possível”. Do duelo entre as entidades responsáveis, saem três vencedores já anunciados: “os leitores, a cultura e a literatura.”

 

PÁGINA/Maria João Leite


  
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