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Sem-abrigo promoveram encontro no Porto

Partilha de vivências em redor da arte

Houve debate, música para todos os gostos, cinema e poesia. A iniciativa Uma Vida Como A Arte - Existimos! Somos Pessoas!, organizada por uma comissão com o mesmo nome, tinha como objetivo a partilha de vivências e de expressões artísticas, independentemente de os participantes estarem em situação de sem-abrigo ou não.

“Queremos dar voz a todos, a quem tem casa e a quem não tem, a artistas conhecidos e a artistas de rua. Todos têm uma voz e têm aqui a oportunidade para se manifestarem de alguma forma”, disse Christian Georgescu, da organização do evento, que pretendeu também chamar a atenção para a realidade dos sem-abrigo, para as suas experiências e histórias e para a procura de soluções.

Christian é romeno, cigano, tem 35 anos e está em Portugal há três. Dormiu na rua durante os dois primeiros. “É uma vida muito difícil, mas consegui sair”. Como se não bastasse a necessidade de aprender uma língua nova, Christian desconhecia as instituições que o poderiam apoiar. Desbloqueado o problema, está agora a dormir num albergue. “Com a crise é muito difícil dar a volta. Não temos nada. Só temos isto... E isto fala tudo”, referiu, apontando para o palco do Museu Nacional Soares dos Reis, onde Armindo cantava “Menino Vadio” e “Miúdo da Rua” a cappella.

A voz de Armindo ecoou no auditório quase cheio e no final recebeu um forte aplauso da plateia. Tem 51 anos, as pessoas dizem-lhe que canta muito bem, mas ele não gosta de se ouvir. Recordou que chegou a ser “mais do que um sem-abrigo”. “Fui escravo de ciganos, durante 20 anos. A vida levou-me para lá. Vivi na Casa do Gaiato e depois fiquei sem nada”. Armindo vive agora num quarto e está inserido num projeto (Som de Rua). Ainda assim, e apesar da paixão pelas artes que tem desde miúdo, considera que com a idade que tem “é difícil voar”...

Sem-abrigo pedem leis que os defendam. E se durante tarde, entre muitas outras participações, Helena Sarmento cantou o fado, João Páris tocou piano, Rui Spranger recitou poesia e foram exibidos dois documentários [“#205 Filme”, de Duarte Guedes e Nuno Simões, e “As vozes do silêncio”, de Christophe Bisson], de manhã houve debate. Entre a partilha de experiências e troca de ideias, os sem-abrigo lamentaram que não haja leis adequadas que defendam quem vive na rua.

Entre os presentes, Manuel Pizarro, vereador da Habitação e da Ação Social da Câmara Municipal do Porto, mostrou-se disponível para ouvir, “consciente de que a pobreza extrema e a exclusão social extrema, que os sem-abrigo representam, é uma situação que temos de ajudar a superar”. Em declarações à agencia Lusa, Pizarro disse ainda sonhar com uma cidade do Porto sem pessoas sem-abrigo e garantiu que vai trabalhar com elas e com as instituições de solidariedade social para conseguir dar uma resposta nesse sentido.

Dados de 2012 indicam que o Porto tem 1.113 pessoas em situação de sem-abrigo e em acompanhamento, das quais 84 estão em condições de integrar o mercado de trabalho e 113 estão estabilizadas, mas não vão ser integradas porque precisam de ajuda. Os restantes ainda estão em análise. Na rua existem cerca de 250 pessoas.

Uma Vida Como A Arte - Existimos! Somos Pessoas! decorreu no âmbito do projeto As Vozes do Silêncio e contou com o apoio do Núcleo de Planeamento e Intervenção junto das pessoas em situação de sem-abrigo (NPISA).

Maria João Leite/PÁGINA

[fotos cedidas por AMANTA Filmes]


  
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